"Um sonho é um escrito, e muitos escritos
não são mais do que sonhos." (Umberto Eco)
Diz-se que
aquele que sabe viver a vida percebe que vale mais a pena recordar os momentos
felizes em vez de relembrar os seus erros e as suas mágoas. Como na
generalidade toda a gente, também me lembro do passado, mas não com um sentido de
melancólico, mas sempre com muita saudade, e também com a sabedoria da
maturidade, o que me faz projectar no
presente aquilo que, sendo ou consideramos os melhores momentos e também os
menos bons, não se perderam nem nunca se perdem. Devemos considerar que a
maturidade permite-nos olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento,
entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura e perceber que não
volta mais ao nosso convívio quem perdemos e que marcou de forma definitiva a
nossa vida. Amadurecer significa deixar a nossa visão egocêntrica para
compreender que existe um mundo maior e mais complexo, um mundo que muitas
vezes nos coloca à prova e que nem sempre satisfará nossas expectativas, os
sonhos e as ilusões da nossa vida. E, no entanto, quando amadurecemos, podemos
viver em paz naquele mundo, aceitando tudo de que não gostamos, mas com a plena
consciência que não podemos mudar o passado. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o
mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O
nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que
cada um traz dentro de si.
É por isso que amadurecer talvez seja descobrir
que sofrer perdas no nossa vida é inevitável, mas que não precisamos nos
agarrar à dor para justificar nossa existência. Como disse William Arthur Ward :
” Cometer erros é humano e tropeçar é comum; a verdadeira maturidade é poder
rir de si mesmo “.
Na realidade a verdadeira maturidade psicológica
surge quando somos capazes de ter a capacidade emocional de aceitarmos esses
acontecimentos , e quando olhamos a realidade para os nossos olhos e, em vez de
os descermos, e olhar-mos o chão, nos
perguntamos: ” Qual é o próximo passo? ” Isto significa que, embora a realidade
possa ser dolorosa, não ficamos presos no papel de vítimas sofrendo em vão, mas
protegemos o nosso equilíbrio emocional adoptando uma atitude proactiva, pois
na generalidade a maioria de nós não ouve
com a intenção de entender o que nos está a ser dito, mas ouvimos com a intenção de responder. “ A
sabedoria não está em não falhar ou sofrer, mas usar nossas falhas para
amadurecer e nosso sofrimento para compreender a dor dos outros.” (Augusto Cury)
Há quem diga que por vezes, viver na ilusão pode
ser mais cómodo do que encarar “a triste realidade de viver a vida” . Aliás, é
exactamente por isso que nos deixamos nos enganar. Por que muitas verdades doem
na alma, esmagam o nosso coração e nos jogam , como diz o povo “na sargeta!.
Então, é por isso que mesmo sem se dar
conta, a pessoa finge que não vê o que está bem claro, nega aquilo que é
evidente e deixa-se enganar até por si mesma. Entretanto, ser
ludibriado pela fantasia pode nos levar a um desperdício do nosso tempo, porque
no mundo da lua não existe vida, e para seguir adiante no mundo real é preciso
ter os pés no chão, e quanto mais firmes, mais largos os nossos passos em
direcção a verdadeira felicidade de viver a nossa vida. “Tenho a idade em que as coisas se olham com
mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo. Tenho os anos em que os
sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se
consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso de paz, como o
entardecer na praia. Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois
meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas
ilusões quebradas. Valem muito mais do que isso. O que importa se fizer vinte, quarenta,
ou sessenta! O que importa é a idade que sinto. Tenho os anos que preciso para
viver livre e sem medos. Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a
experiência adquirida e a força de meus desejos.” (José Saramago)
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