terça-feira, março 28, 2017

O PAÍS ONDE TUDO ACONTECE OU NADA APARECE QUE ACONTECE !

O PAÍS ONDE TUDO ACONTECE OU NADA APARECE QUE ACONTECE !

Como bem avisou Oscar Wilde, com o seu sarcasmo imbatível, “se disseres a verdade, vais ver que, mais tarde ou mais cedo, vais ser descoberto”. Talvez sim ou talvez não, há por vezes esses sobressaltos que nos fazem pensar vivermos num País onde tudo acontece ou pode acontecer.

Quando na passada semana me encaminhava  para o Cais do Sodré,  apreciando o novo passeio ribeirinho, na Ribeira das Naus “olho o tejo” e vejo um cacilheiro, navegando lentamente, o que é normal em passeios turísticos,  o que me levou a reparar que se tratava do cacilheiro "Trafaria Praia", (que pertenceu à frota da Transtejo) que foi transformado em obra de arte pela artista Joana Vasconcelos, e terá em Maio de 2016 regressado ao rio Tejo,  “para uma operação turística combinada de percursos fluviais entre a Ribeira das Naus, no Cais do Sodré, o Terreiro do Paço e Belém “ (pesquisa no Google!!) Este cacilheiro, que representou Portugal na Bienal de Arte de Veneza de 2013, terá sido “adquirido” pela emresa DouroAzul e terá realizado cruzeiros no Tejo entre Abril e Novembro de 2014, tendo regressado a esta operação fluvial e, Maio de 2016.(recurso à Google….)

Ora acontece segundo julgamos saber a operação de navegação no rio Tejo carece de uma licença para esse efeito, que é concedida, ou era, pela Administração do Porto de Lisboa e por isso, causa-nos alguma surpresa dado que essa mesma licença “para ocupação e uso privativo dos bens imóveis do domínio publico hídrico e do domínio privado, exclusivamente afecto à exploração dos transportes fluviais no rio Tejo” foi cedida por “contrato de concessão” à Transtejo-Transportes Tejo SA, que também foi incumbida “ directa ou indirectamente através de sociedades por si dominadas ou controladas, a organização e gestão do serviço de transportes fluviais no estuário do Tejo”, como pode “legalmente” tal operador promover percursos fluviais no estuário do Tejo?
Por outro lado, tanto quanto eu sei as Autoridades Marítimas são rigorosas nas autorizações de navegação, muito mais no estuário do Tejo dado o elevado numero de operações fluviais regulares que operam em conjunto com os “gigantes marítimos” que nos visitam, quer a nível turístico, quer de carga por via marítima, e também penso que o bom senso não permite que as empresas operem sem os  certificados de autorização de navegabilidade no estuário do Tejo, o que nos pode levar a concluir, embora já todos certamente formámos opiniões apressadas e fomos demasiado lentos a mudar de opinião, que haverá mais um “operador fluvial no estuário do Tejo”?


Talvez por isso, não pude deixar de me lembrar da forma como José de Almada Negreiros, “Poeta d’Orpheu, futurista e tudo”, escreve num seu texto onde zurze sem dó nem piedade: “Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. ”. O texto foi publicado no Diário de Notícias em 3 de Novembro de 1933. E por isso, não vou escrever o óbvio!