quinta-feira, junho 11, 2020

“PERCEBEMOS MESMO O QUE SE PASSOU OU PREFERIMOS VOLTAR AO PASSADO?”(Presidente da República, discurso de 10 Junho de 2020)


“PERCEBEMOS MESMO O QUE SE PASSOU OU PREFERIMOS VOLTAR AO PASSADO?(Presidente da República, discurso de 10 Junho de 2020)

“Uma crise séria nunca deve ser desperdiçada, elas são uma oportunidade para fazer as coisas  que antes pensávamos que não conseguiríamos fazer”. (Rahm Emannuel –chefe gabinete Obama). Talvez por isso o presidente da Republica Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, no seu discurso do dia 10 de Junho de 2020, tenha questionado se “percebemos mesmo o que se passou e se passa, ou, apesar de concordarmos com os desafios destes tempos, preferimos voltar ao passado naquilo em que ele já não serve ou já não é suficiente?” É muito provável que muitos de nós que nestes tempos que não são os nossos, somos levados a pensar que esta “crise viral” tem tudo a ver com “estes tempos”, sentimo-nos como “enlatados” e até furiosos, como num engarrafamento de trânsito em hora de ponta, procuramos uma escapatória à nossa volta e não vemos nada. Há uns dias li esta prece, num qualquer livro, e que nestes dias me vem por vezes ao pensamento. “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios. “ (salmo 90:12). Talvez a causa próxima, nestes tempos de confinamento epidémico seja, na verdade porque não fazemos outra coisa que não seja contar: os dias, as horas e até os minutos, mas também somos, a todo o momento, quer nas tvs ou na imprensa, bombardeados com os mortos, infectados, contamos os curados, os internados, os resultados dos testes em falta, as faltas à escola, e tanta coisa mais, e o que queríamos ouvir ou ler quantos dias faltam para voltarmos “à nossa normalidade”? Normalidade que foi suspensa e não sabemos por quanto tempo.  Sonhamos que a contagem dos dias acabem, queremos alcançar um “coração sábio” que nos diga ou garanta que todo este sofrimento não seja em vão! “Nenhum homem é uma ilha isolada.” Uma frase de John Donne que, nestes tempos em que tantas vidas se perderam, podem ajudar-nos a recordar qual o real sentido da palavra “comunidade”, que de súbito nos assalta perante o “sentimento de medo”, que nos leva o olhar uns para os outros, o que antes muitas vezes nos era indiferente, mas agora, nestes tempos vemo-nos reflectidos como num espelho, porque vemos nele o que verdadeiramente importa: viver a vida, pois esta “é uma valor sem variações” (cardeal Tolentino de Mendonça)
  Na realidade com tudo isto não é o tempo para “brincadeiras” e temos de ter plena consciência se nada fizermos o nosso futuro será muito sombrio, para evitá-lo e pensar em soluções, devemos olhar para os mundos possíveis contidos na realidade que “nestes tempos” temos de enfrentar, o que nos obriga a ter de sofrer de um lado, e de recriar do outro ao mesmo tempo.  O filósofo americano Nelson Goodman chamou a atenção para os “mundos possíveis que estão dentro do mundo real”. Numa crise sistémica, mais importante do que prever o futuro, que ninguém sabe o que vai ser, é olharmos para esses mundos possíveis que estão dentro da realidade sombria que vivemos e encontrarmos formas de minimizar os riscos que se nos colocam. ”É um erro pensar uma geração como dispensável ou como um peso, pois não podemos viver uns sem os outros”(cardeal Tolentino de Mendonça)