“ Quando se sonha sozinho é apenas um sonho.
Quando se sonha juntos é o começo da realidade.” (Miguel
de Cervantes)
Somos levados a admitir que “construção de uma
vida” encontra-se, actualmente, mais em poder dos factos do que das convicções
de cada um. E, é nesse sentido que penso que todos nós em certos momentos já
nos interrogámos, qual a razão porque há algumas pessoas que parecem encantar
toda a gente à sua volta mal abrem a boca e outras, que podem até ter coisas
mais interessantes para dizer, mas cuja voz não chega sequer a ser ouvida. A
nossa resposta poderá ser porque talvez sejam pouco assertivas, ou até tímidas,
ou então não conseguem expressar bem as suas ideias. “A luz se foi e agora
nada mais resta, a não ser esperar por um novo sol, um novo dia, nascido do
mistério do tempo e do amor do homem pela luz.“ (Gore Vidal)
Lembrei-me de recuperar estes pensamentos porque
muitos de nós lutam de vários modos durante a vida para permitir aparecer, ser
vistos ou ser reconhecidos. Muitos de nós sentimos, em certos momentos, que
talvez não tenhamos o direito de ser importantes. Muitos de nós sentimos até
que não merecemos os nossos próprios sonhos ou presentes que sempre querem
significar algum acontecimento. Muitos de nós sentimos que ao ocuparmos um
espaço, isso significa deixar menos espaço para os outros fazerem o mesmo. E
muitos de nós somos levados a permanecer
pequenos por toda a vida porque é mais fácil do que passar por nossa própria
dúvida e aparecer, repetidamente, até começarmos a acreditar que realmente
somos dignos de existir e viver a nossa vida, porque é o prazer de viver que dá
todo o sentido à nossa vida. Como disse Alvin Toffler :"O futuro é
construído pelas nossas decisões diárias, inconstantes e mutáveis, e cada
evento influencia todos os outros."
Quando nos perguntam como vai a vida, desde a
família, aos filhos, à saúde, no geral respondemos que tudo está, se não muito bem, no mínimo bem.
É interessante que nessas alturas ninguém tem problemas com a esposa ou com
o esposo, com os filhos, com os amigos, com os empregados, ou até com os
vizinhos. O que transparece é que tudo é tão perfeito na vida dos
outros, que não nos atrevemos sequer a nos queixar ou a lamentar sobre o que
nos aborrece ou nos entristece. E há tantas coisas que nos aborrecem e
outras tantas que nos entristecem!
Quantas
vezes é que não ouvimos alguém
queixar-se ou lamentar-se de que não se está sentindo muito bem, ou de
que simplesmente que está triste? E muito menos que esse estado “de alma” se
tem prolongado no tempo? Talvez porque achamos que raramente conhecemos alguma pessoa de bom
senso, além daquelas que concordam connosco. No entanto segundo JOSH BILLINGS “Bom
senso é a capacidade de ver as coisas como são e fazê-las como devem ser feitas.”.
E porque assim é,
e se queremos estar bem com todos
no “nosso mundo e no mundo dessas pessoas”, sejamos então alegres, não falemos
nunca de dramas, de problemas, da falta de dinheiro, de angústias várias. É que
desta forma, ninguém nos vai achar problemático, complicado, ou um maçador
e ter de nos evitar a cada momento. Mas,
quando ficamos exaustos de tanto nos contermos, sem podermos “abrir o coração e
a boca”, até porque ninguém nos ouviria mesmo, não sabemos ainda as consequências
de tanta contenção, pois se de facto preocupar-se é um hábito, que consideramos
nocivo, e que se disfarça por trás de uma intenção real de resolver uma
situação problemática, pelo contrário a resolução de problemas, a preocupação
geralmente não leva a lugar algum e tem uma tendência a sair do nosso controlo.
Além disso, os psicólogos apontam que a preocupação é quase sempre inútil, não
nos devemos preocupar com o que ainda nem sequer aconteceu, e pode até mesmo
atrapalhar os nossos processos de pensamento. Daí o conselho de Winston Churchill “É bom ter livros de
citações. Gravadas na memória, elas inspiram-nos bons pensamentos.”
É nesta altura cabe aqui perguntar: Será que só
nós temos problemas? Ou será que há sempre alguém em pior situação que nós? A
vida não é um “programa de computador” para ser vivida de forma “ perfeita sem problemas e sem dramas”,
temos que ter consciência que nem tudo nas nossas vidas tem de estar bem, nem
da nossa , nem dos outros , que podemos e devemos falar dos nossos problemas,
sejam eles de que natureza forem, que nem sempre estamos alegres ou
de bom humor, como disse José Saramago :“A solidão é enriquecedora, mas
isso depende directamente da possibilidade de se deixar de estar sozinho.“
Certo é que estamos, por cada dia que passa, a
perder o que de melhor há na vida e nos relacionamentos humanos, que é a troca
de experiências, de partilharmos o nosso modo de viver a vida, na troca de
esperanças, de ideais - da vida, em suma - e ir atrás do que na verdade nos interessa e que
nenhum enfeite disfarça mas nos faz viver a vida. Como dizia Albert Einstein
: “Só há duas maneiras de
viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A
segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”
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