“Enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança."
(William Shakespeare)
Como acontece com grande parte das pessoas vejo o tempo passar, e ao mesmo tempo
“parece” começar a sentir uma “espécie de preguiça crónica” que nos quer fazer
esquecer de olharmos para as coisas que nos rodeiam. Causa-me um certo espanto
o tempo que agora passa. Cheguei à conclusão que o tempo é a única coisa
terrível que existe. O tempo, que neste tempo passa sem quase dar por isso e
leva de arrasto, aparentemente aleatório, a juventude que já foi nossa e a dos
outros. Não é uma situação de amargura,
é apenas a realidade da vida. Como disse Josh Billings acerca da solidão como “
um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adoptar como
morada.” É por isso, que temos que
aprender a observar, porque a realidade sem o sonho e a fantasia não tem
nenhuma utilidade para a nossa “estadia” e modo de viver a nossa vida. E
continuamos a sonhar que venham novas histórias, novos sorrisos e novas
pessoas!
Como todos já alguma vez sentimos a solidão nunca
vem sozinha, pois como devemos saber,
ela traz consigo a dor, a saudade, a tristeza e o vazio.
Há quem diga que saudade é não saber! Não saber o
que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar
tarefas que parem o nosso pensamento, não saber como “parar” as lágrimas quando
ouvimos uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio, naqueles
momentos em que nada nos preenche.
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos
“machuca”, é não conseguir ver o futuro que nos convida! Saudade é sentir que
existe o que não existe mais! “Aqueles que nunca sofreram não sabem nada, não
conhecem nem os bens nem os males, ignoram as pessoas , ignoram-se a si
próprios.”( François Fénelon)
Todos devemos saber que existem algumas formas de
honrar a memória das pessoas. É um exercício interessante, porque estimula o
significado das histórias compartilhadas, quando a pessoa não esteja mais cá, o
que nos faz “relembrar” que o que vivemos juntos permanece vivo sob a forma de
sabedoria, de crescimento, de motivação. Mesmo que exercícios como criar álbuns
de fotografias, visitar locais especiais, celebrar até aniversários, etc,
possam trazer lágrimas, também revelará sentidos que se “mantiveram” escondidos
nos casos em que tais memórias, por um motivo ou outro “já se tinham dissipado”
na nossa mente. Não apaguem nada, tentem compreender tudo, flutue livremente
por entre as suas histórias. Chore o que
tiver que chorar, abrace tudo que surgir até que os primeiros sorrisos comecem
a florescer.“A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos bons e maus,
encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de frente com
coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há-de vir, que a
gente há-de ter um dia em que há-de poder dormir, e não ouvir, não ver, não
compreender nada.”(Florbela Espanca)
Não foi por acaso que num destes dias surgiu-me a
ideia de que a “saudade” não se encaixa
muito bem, ou mesmo nada com a
“solidão”, já que a “saudade” é bastante mais do que isso. Saudade é ver
uma miragem no final de uma estrada deserta, é andar de braços dados com o
sonho e esperança, é tentar enganar-se pela milésima vez caminhando no sentido
contrário do tempo. Pelo contrário a solidão é uma espécie marcha lenta, é o
degradar de qualquer tipo de sentimento, é o aprender a dançar sozinho, beber sozinho,
sonhar de forma avulso sem sentido de coisa alguma,
é o olhar
para os lados e descobrir que a saudade continua a bater à porta, não a sua
porta, mas sim a de qualquer outro.
“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar
suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo“.( José Saramago)
Considera-se que é de facto incrivelmente, um
óptimo meio ou recurso de tratamento, como terapêutica adequada o conversar
sobre os sentimentos que cada um sente. A morte da esposa ou do marido ou de
outro qualquer familiar ou amigo mais chegado, é um evento fortemente
traumático para o qual ninguém está preparado. Pode levar anos para processar
todos os sentimentos que ficam e atribuir significado às histórias
compartilhadas. Lembrar estas experiências pode trazer conforto e até alegria,
um passo crucial para a solução e recuperação da vontade de viver. É por isso
que, devemos de procurar não só as
pessoas que tenham ou estejam a passar pela mesma situação, mas também
com sentimentos genuínos de compaixão para poder escutar o que tem ou quer
dizer. “A vida, que parece uma linha
recta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é
feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros.
Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da
sinceridade consigo mesmo”. (José Saramago)
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