Agora
que aos poucos o nosso País retoma a normalidade não podemos nem devemos
esquecer o que se passou neste nosso País entre 2011 e 2015 em que fomos
vitimas de um dos lados mais execráveis da política económica que nos foi
imposta por Passos Coelho e que, em certos aspectos “algo doentio” a forma como
esse primeiro-ministro ia adoptando uma agenda económica, que não tinha sido
apresentada aos eleitores. Passos Coelho não arranjou argumentos de natureza
económica para justificar as suas medidas de austeridade extremas, optou por
uma estratégia que visava quebrar a auto-estima dos portugueses.
Há
grandes semelhanças entre a forma como o governo de Passos Coelho tratou os
portugueses e o que se passa com as mulheres que são vítimas de violência
doméstica. Nestas situações o abusador tenta quebrar a auto-estima da vítima
incutindo-lhe um sentimento de culpa, que a condiciona na resposta. Muitas
vítimas de violência doméstica sentem-se culpadas, chegam até a pensar que são
vítimas de violência por culpa própria, acabam por se sujeitar e na maior parte
dos casos são incapazes de quebrar esse círculo vicioso.
O
argumento usado por Passos Coelho e alguns dos seus ideólogos foi o de que a
austeridade foi consequência do excesso de consumo. Os portugueses tinham culpa
e deviam espiar os seus pecados, eram culpados por gastar o que não tinham, por
ter férias em excesso, por gozarem mais feriados do que os alemães. Durante
meses fomos comparados com os alemães, de um lado os gandulos que gostam de
consumir o que é dos outros, do outro um povo exemplar, trabalhador, poupadinho
e amigo do patrão, era o próprio primeiro-ministro e os seus ideólogos que
justificavam a suas medidas como castigo merecido.
“Não se tratava de uma
política económica, era um castigo, uma auto-flagelação merecida por pecadores,
os pobres e a classe média abusaram do crédito para consumirem acima do que
podiam, tinham de expiar os seus pecados, a legislatura foi uma imensa semana santa,
com um pecador convencido da culpa a assumir os seus pecados. O ministro das
Finanças era o “bispo”, Passos Coelho o confessor que determinava o castigo que
voltaria a abrir as portas do céu a um povo pecador.”
Aos poucos o País vai saindo do pesadelo que lhe foi
imposto, da manipulação psicológica que lhe foi imposta, o cidadão comum deixou
de sentir um peso na consciência por gozar férias ou por usar o cartão de
crédito. Acabaram-se as intervenções idiotas de Gaspar, os discursos irritantes
do agora rico Paulo Portas ou as baboseiras económicas da iletrada Maria Luís.
Aos poucos o nosso País retoma a normalidade, pois temos, como sempre tivemos, o Sol, fado e o
futebol. E com algumas poucas virtudes e alguns defeitos, nomeadamente “dos
nossos políticos”, contam-se pelos dedos de meia mão, aqueles que revelam colocar
o primado da Lei democrática e da decência comunitária acima das paixões e da
decadência. Que mais podemos querer?
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