terça-feira, março 26, 2013

No que consiste este troikismo ao quadrado?

 
No que consiste este troikismo ao quadrado?

É uma política económica que combina o ultra-liberalismo com o estalinismo. É ultra liberal no ódio ao Estado, a tudo o que cheire a social, a direitos sociais, a princípios constitucionais que interfiram com a economia. É estalinista porque tem pouca consideração pelos mercados e decide ao nível central quais os sectores que devem ser salvos e quais os que devem ser eliminados.
A economia do País foi sujeita a um verdadeiro plano quinquenal estalinista em que se pretendia reformatar tudo e todos no pressuposto de que no fim do plano quem estava a mais no país teria emigrado, os empresários de sectores considerados inúteis estariam falidos, as empresas consideradas necessárias seriam salvas com o dinheiro cobrado aos contribuintes. Destruíram-se sectores inteiros como a restauração, o pequeno retalho ou a construção civil, ao mesmo tempo cortaram-se subsídios a todos os portugueses para com esse dinheiro tapar o buraco do BPN e emprestaram-se milhões aos bancos emprestados com dinheiro da troika cuja garantia é dada por uma política brutal para o cidadão comum.

O Portugal do Gaspar faz lembrar a China estalinista de Mo-Tse-Tung.

(retirado de www.jumento.blogspot.com)

 
As teses de Mário Murteira, economista íntegro e digno, falecido à muito poucos dias, onde divulga o seu pensamento mais recente sobre a "crise" que nos ameaça:

Primeira tese: esta crise não tem precedentes comparáveis. A presente crise tem contornos específicos sem precedente na história do capitalismo. É ilusório, por exemplo, compará-la com a «Grande Depressão» dos anos 30 do século passado. A «novidade» essencial reside na dimensão colossal dum capitalismo financeiro globalizado, que sem apelo submete à sua lógica a chamada economia real, ficando esta entregue à ganância da acumulação mercantil, sem regulação digna desse nome.

Segunda tese: a economia é importante, os economistas, não.O pensamento económico dominante, de feição «neo-liberal», é irrelevante para a análise da presente crise, embora possa servir – como no passado recente serviu– de justificação ideológica para uma política de «mais do mesmo».

Terceira tese: a «Ciência Económica» passa ao lado da crise. Um paradoxo da presente conjuntura reside na irrelevância da «Ciência»Económica dominante, contrastando com o implacável domínio do «económico» no funcionamento das sociedades actuais. Daí o descrédito da classe profissional dos economistas na interpretação do que acontece na economia real. O autor destas linhas sabe bem como era prestigiado o «economista» nos anos 60/70 do século passado, mesmo em Portugal, ao contrário do que hoje sucede

Quarta tese: Marx e Schumpeter enganaram-se ambos sobre o destino do capitalismo e, tal como eles, ninguém pode prevê-lo. Joseph Schumpeter, nascido no ano da morte de Karl Marx (1883), foi talvez o maior economista da primeira metade do século passado e considerava Marx um dos maiores economistas de sempre. Pela amplitude da sua «visão» da História, Schumpeter tinha também grande admiração pelo capitalismo, fundada no seu processo de inovação ou «destruição criadora», o grande papel histórico do empresário empreendedor. Grandes economistas com visões opostas do capitalismo tinham todavia algo em comum: observavam-no como um processo histórico em
movimento, uma totalidade em que o «económico» é a dimensão porventura condicionante do todo.

Quinta tese: é preciso criar nova concepção de regulação do capitalismo, nova nos meios como nos fins. Diz-se que alguém «não regula bem», quando apresenta sintomas de distúrbio ou perturbação mental. Quando hoje observamos os comportamentos de entidades como o FMI, o Banco Mundial ou o Banco Central Europeu, podemos dalgum modo reconhecer que por vezes não regulam bem, ainda nesse sentido. Observe-se por exemplo, o tom solene com que se fazem previsões (até às décimas!) sobre a variação anual do PIB ou se apela para o respeito dos «Fundamentals» da Economia.

Como se apenas os governadores dos bancos centrais, literalmente, penetrassem no segredo dos deuses.”Quando observamos os comportamentos do FMI, Banco Mundial ou Banco Central Europeu, podemos dalgum modo reconhecer que por vezes não regulam bem”.

Sexta tese: sim, não sabemos para onde vamos, mas ao menos importa saber donde viemos, para procurar outros sítios. Não viemos apenas dum sistema económico dominado pela especulação financeira. Viemos também de um mundo de tremendas desigualdades, de generalizada corrupção a todos os níveis, de declínio dos valores éticos em contraste com o predomínio dos valores bolsistas, onde terrorismos desesperados emergem, em particular junto de jovens que não encontram outras formas de dar sentido às suas vidas. A «crise» é, sem dúvida, económica, mas também civilizacional e cultural

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