sexta-feira, setembro 01, 2023

Somos ignorantes demais para reconhecer a nossa própria ignorância?

Somos ignorantes demais para reconhecer a nossa própria ignorância? Há alguns autores que defendem que somos bastantes ignorantes acerca de nós próprios. Mas, em particular sabemos muito pouco acerca da nossa mente e, principalmente exercemos pouco controlo sobre ela. Na realidade há para aí ainda gente que acha que o mundo não mudou – pelo menos nalguns aspectos – e quem nele exerce funções de poder não se pode dar ao luxo de, com a sua conduta ou omissão, dinamizar factos e ideias contrárias aos valores desse novo mundo. E não é pedir muito que hajam sem tolices, nem manifestações de superioridade, sejam quais elas forem, ou como diria alguém ao citar Cervantes: “A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas”. O universo, nós sabemos, rege-se pela lei do menor esforço, da poupança de energia. Ninguém escapa a isso. Mas a nossa inteligência tem que ser capaz de ir mais além e, aprendendo com a história, prevenir os problemas para construir um futuro melhor… Por isso tantos de nós não votaram, não participaram, não disseram, não pensaram... porque cansa pensar, porque cansa reunir, porque cansa discutir, porque cansa organizar, porque até cansa ir votar! Mas, como disse George Bernard Shaw: “Cuidado com o falso conhecimento, ele é mais perigoso que a ignorância…..é que liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela.” Temos que reconhecer que na generalidade falta-nos espírito colectivo, cívico, participativo e empreendedor. Quantos de nós fundámos associações ou empresas? Quantos de nós se interessaram pelas questões urbanísticas e ambientais? Quantos de nós interviemos a nível partidário? Quantos de nós lutam a nível laboral ou em prol dos direitos do consumidor? Quantos discutem política? Muitos de nós nem sequer votam, para a Assembleia da República, para as Câmaras Municipais, nos referendos ou para o parlamento europeu (utilizando o discurso fácil e débil de que os políticos são todos iguais...). “Somos nós que temos de nos salvar, e isso só é possível com uma postura de cidadania ética, ainda que isto possa soar antigo e anacrónico.“ ( José Saramago) A maioria dos cidadãos, no geral as novas gerações andam entretidas em festivais de verão, em bares e discotecas (onde a música, a droga e o álcool ocupam o lugar do pensamento), em consumo desenfreado em centros comerciais (dos gadgets de última geração ao último grito na moda de roupa e acessórios) e colados à internet, consolas ou computadores olhando para vídeos idiotas ou jogos imbecilizantes... A verdade é que temos que dar muito mais de nós, temos que ser mais exigentes com a nossa cidadania e não nos limitarmos a queixar uns dos outros ou em especial dos “políticos” , como se nós não estivéssemos nada a ver com tudo isto!!! “A cidadania moderna é um conjunto de direitos e obrigações que compreendem três grupos: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais” (T. H. Marshall) Afinal, de que nos serve termos muito mais formação e informação que as gerações que nos precederam? As ferramentas adicionais que adquirimos têm que nos servir para sermos mais capazes de intervir sobre a sociedade a todos os níveis (económico, social, político e cultural). Temos que ser mais capazes de pensar pelas nossas cabeças, encontrar novos equilíbrios sociais e propor soluções criativas, inovadoras e eficazes! O futuro de Portugal depende de nós, da nossa capacidade de criação, inovação e intervenção. No fundo, a verdadeira alternativa somos nós! Cumpramos, então! Ou como diria um meu amigo, a citar Millôr Fernandes: “Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento para saber envelhecer”.

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