domingo, maio 08, 2022

“Aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria opinião.”(William Shakespeare)

“Aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria opinião.”(William Shakespeare) É natural que todos os organismos e todos os partidos e todos os jornais (e todos os cronistas, bem assim como todos aqueles que sabem de tudo…) dos duzentos e tal países que há no mundo tenham opiniões sobre a invasão russa da Ucrânia. O que é estranho em Portugal – e talvez em dezenas de outros pequenos países como Portugal – é que estas opiniões sejam debatidas com uma intensidade e um sentido de importância que levariam um “marciano” a acreditar que era Portugal que tinha sido invadido pela Rússia! Ao contrário do que escreveu Marx corrigindo Hegel em "18 Brumário", não é verdade que os grandes factos da história se apresentam na primeira vez como uma TRAGÉDIA, na segunda vez como uma FARSA: na segunda vez eles podem se apresentar como uma TRAGEDIA AINDA PIOR. É o que, após a Guerra do Golfo de 1991, e todas as outras depois dessa, acontece hoje com a Ucrânia. Na realidade é que estamos numa escalada da desumanidade e no colapso da humanidade, na escalada do simplismo e no colapso da complexidade. Mas, sobretudo, na escalada em direcção à guerra mundializada e no colapso da humanidade para o abismo. Por muito que se repita o combate à desinformação é uma das prioridades da União Europeia já que pluralismo da informação e as boas regras do jornalismo sempre sugerem que se oiçam todas as opiniões, inclusive as mais controversas e dissonantes, o que não acontece hoje em dia, e por isso é triste ver algumas pessoas a alinhar com os “Torquemadas da propaganda única e a repetir a narrativa dos Bons e dos Maus.” Pedem que não lhe venham com a história do pensamento único. Claro que aqueles que ainda conservam uma restea de espírito crítico lhe vão vir com essa história. Pelo menos enquanto ainda os deixarem, e que pelo caminho que as coisas levam já não deve ser por muito tempo,, ou pelo menos à para aí gente com muita vontade disso. É triste ver pessoas que eu até tinha como dotadas de alguma sensibilidade, escrever afrontas do calibre de «Podemos ir à Síria, a Gaza, ao Sudão, ao Iémen, a todos os locais de guerras no mundo e nada se compara ao que acontece hoje na Ucrânia» (tipo a minha guerra é pior ca tua/refugiado ucraniano é mais refugiado do que o sírio ou como Jesus, semita, “é” louro e de olhos azuis) e depois de o ver a quebrar essa camadinha de cristal com que se protegia à minha vista, não me espanta vê-los a terminar feitos “cruzada ideológica”. A coisa não é de hoje – eles próprios o dizem em tom de verso rufia: «estou todos os dias mais belicista» - o que tudo leva a querer que quando lhe passar a conversão…terei de se explicar aos marcianos que, na verdade, não era a invasão russa da Ucrânia que está a ser discutida. A invasão russa da Ucrânia é apenas um pretexto para os pequeninos dos portugueses, estacionadinhos neste canto da UE, andarem a brincar às guerrinhas entre direitas e esquerdas, fingindo que é o futuro da civilização ocidental que está em jogo .Finalmente nada melhor que a minha recomendação, a quem como eu achar que vai perdendo referências intelectuais em Portugal no que toca ao desenrolar deste assunto, as entrevistas recentes do Noam Chomsky e Glenn Greenwald, ambos premiados e reconhecidos ao mais alto nível nas suas áreas académicas/jornalísticas, e com um discurso menos bélico, ou como disse Alexandre Herculano:” Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.”

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