segunda-feira, maio 03, 2021

“Pensar é um diálogo que temos connosco próprios." (prof. Eduardo Lourenço)

“Pensar é um diálogo que temos connosco próprios." (prof. Eduardo Lourenço) Há momentos na nossa vida que “julgamos” ter “determinadas coisas por garantidas”, a realidade é que de um momento para o outro as “coisas não são bem assim”, tudo se esfuma num ápice, mais ou menos ficamos naquele estado que queríamos apanhar o vento, ou julgávamos que podíamos apanhar o vento!!! E só nos resta “o pensamento” de Fernando Pessoa:” Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” Por vezes damos por nós a folhear um jornal, ou um livro de uma forma metódica, para não perder nada, mas também para não perder tempo. No fundo só lemos o que nos interessa. Há algum tempo um amigo ensinou-me que a coisa mais importante que devemos aprender, ao ler artigos de opinião em jornais, ou ouvir nas tvs ou qualquer outro método, é perguntar sempre, (descobrir) “com quem é que ele (ou ela) está a falar?” “É com a malta do partido? É com os amigos? É com o patrão? etc”. É que há sempre alguém a que um articulista se dirige. Há sempre alguém que quer impressionar. Pode ser só uma pessoa. Atenção: é quase sempre uma só pessoa. Essa pessoa pode ser a única pessoa que vai ler o texto – ou pode até nem ler mas apenas vir a saber que se escreveu qualquer coisa nesse sentido.” E por assim dizer que, quase sempre aquilo que nos parece disparatado e faccioso, veemente e dogmático ou crédulo e banal, torna-se claro quando se percebe que, talvez, seja uma “espécie” de recado. Ou até talvez, uma prece. "Nós somos tempo. Compreender aquilo que nós somos é compreender o tempo que nós somos, aquilo que o tempo exterior, o tempo da história, o tempo da sociedade é em nós.” (prof. Eduardo Lourenço) O problema desta fé cega num pressuposto falso é que as pessoas, as tais boas e sérias pessoas, tendem algumas vezes a perder o discernimento. Por cá, a doença do nós-contra-o-mundo já leva uns anos valentes e atinge todos por igual. Esta condição tende a agravar-se com o tempo. Às vezes parece que melhora, mas é uma febre que regressa sempre a má sorte pode partir-nos a vida mas a inteligência pode consertá-la e tu, “pessoa que caiu e que já vi entretanto de pé, tu és dona de uma força absoluta e tens uma inteligência que é inspiração e também a tua salvação - e se tiveres medo neste teu caminho, porque ter medo nem sempre é cobardia porque às vezes é somente inteligência,” lê duas vezes a Clarice Lispector: “Naquela hora da noite conhecia esse grande susto de estar viva tendo como único amparo apenas o desamparo de estar viva. A vida era tão forte que se amparava no próprio desamparo”.

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