“E ainda o que nos vale são as palavras, para termos a que nos agarrar.”(Raul Brandão)
Isto tudo vem a propósito e dado que a certa
altura da minha vida e actividade profissional também recebi alguns convites de
clubes de futebol, pelo que vejo agora tal, nestes tempos seria considerado um
“crime de recebimento indevido de vantagens”, pelo presidente desses clubes e
devidamente “acusados pelos procuradores do ministério público”, embora como se
torna claro, passados alguns anos, tais acusações nunca chegariam a qualquer
condenação em tribunal, mas no ”âmbito do fanatismo futebolístico” já havia
produzido os seus efeitos sobre os atingidos.
Como consta no “Plano de Visão Estratégica” para
Portugal, um dos principais problemas que nos debatemos é a “baixa competência
técnica” dos serviços públicos a que os cidadãos tem direito, e no caso
concreto os “serviços públicos de justiça que integram os procuradores do
ministério público”, que ao contrário de outros servidores públicos tem
remunerações e outras muito acima da média em Portugal, isto é são altamente
bem pagos. Por isso não é compreensível os erros técnicos, que queremos pensar
que por incompetência e incapacidade e não por outra coisa qualquer. Deixo aqui
apenas dois exemplos e cada um pense o que quer, mas “primeiro” aconselho a que
se “dispa de qualquer tipo de
fanatismo”. 1) Como é possível imputar um crime de recebimento indevido
de vantagem, por ter “oferecido” bilhetes para um jogo de futebol, coisa que
todos os clubes fazem? E para os outros espectáculos? (touradas, teatros,
cinemas etc) 2) Todos sabemos que a imputação de factos, que tem que ter meios
de prova é fundamental em qualquer situação, muito mais quando se quer “fazer
justiça”, por isso não se entende quando se “menciona que um clube de futebol
de Portugal foi finalista da Taça de campeões europeus em 2014? Ou como o
senhor Álvaro Sobrinho a quem era imputável o pagamento de determinadas verbas
ao Juiz Rangel, principal acusado, pelo ministério publico neste processo , já
não consta do mesmo, será que é por ser o principal e maior accionista e
investidor na SAD do Sporting Clube de Portugal?
É por tudo
isto que um dos principais indicadores do atraso e das dificuldade de
investimento em Portugal é o Sistema de Justiça e da credibilidade dos seus
actos o que é muito importante do ponto de vista do reconhecimento social sobre
o funcionamento do nosso sistema de justiça e da qual faz parte integrante o
Ministério Público, que é um órgão de administração da justiça, integrado na
função judicial do Estado.
Chegados aqui que fique bem claro, quem julga são
os Tribunais, e neles são os Juízes que decidem. Como disse Platão.” O juiz não é nomeado para
fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.” Sem
falar na imensa dificuldade em responder à seguinte pergunta: a que
expectativas deve corresponder o juiz quando tem que decidir sobre um “caso”
anos depois de o mesmo “já ter sido julgado pela imprensa”? Será que ele deve
corresponder às expectativas populares-punitivistas criadas, nomeadamente pela
“imprensa”? É responsável pelo "combate a impunidade"? Pela
"limpeza social"? Deve corresponder às expectativas políticas
criadas? Ou deve corresponder às expectativas constitucionais, como garantidor
da eficácia do sistema de garantias individuais estabelecidas pela
Constituição?
Para tanto, é preciso que se respeite o
Ministério Público enquanto parte acusadora. Sem falar que terá de ser uma
instituição séria e sólida, formada por gente muito bem preparada e competente
para acusar e provar a sua tese. Ademais, por detrás do MP ainda existe toda a
polícia judiciária para auxiliá-lo na produção da prova. Então, se a polícia
judiciária mais o Ministério Público não forem capazes de provar a acusação,
será que deve o juiz "descer" na estrutura dialéctica para ajudá-los?
A resposta é óbvia, sob pena de assumirmos que se trata de um "consórcio
de justiceiros", absolutamente inquisitorial e que o processo penal virou
um vale-tudo para condenar. Se for isso, então acabou o processo penal em Portugal e o que “vale é justiça da rua” e, parece que é o que se está
a passar na actualidade no nosso País. “A justiça não consiste em ser neutro
entre o certo e o errado, mas em descobrir o certo e sustentá-lo, onde quer que
ele se encontre, contra o errado”.(Theodore Roosevelt)
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