“Somos a memória que temos e a responsabilidade
que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não
mereçamos existir.”(Cadernos de Lanzarote (1994)- José Saramago).
“Eu preciso ficar sozinho”…. será uma pergunta
ou uma resposta? Todos nós em determinados momentos da nossa vida já
“exprimimos” este desejo. Chega uma hora na vida de qualquer pessoa, em que
acima de tudo o que mais queremos e de que muitos de nós precisamos,
mas na maior parte das vezes não sabemos “como o pedir”, é poder ficar
sozinhos, nós e os nossos pensamentos! Ter espaço e tempo para pensar, para
entender, para sonhar, para tentar reflectir e, acima de tudo para poder
processar tudo isso. “Há momentos em que a maior sabedoria é parecer não saber
nada.” ( Sun Tzu)
A temática do sentido
da perda de alguém, que nos é muito querida, surgiu nos seus múltiplos
aspectos, de formas diferentes na nossa vida, e muito recentemente, e não é
algo que as pessoas queiram falar. No entanto, é uma experiência tão desafiante
para nós entendermos, porque significa abandonar a realidade que tínhamos antes
dessa perda, para abrir espaço para uma nova, que pode ser incrivelmente
inquietante e até muito assustadora. Muitas vezes pensamos numa perda em termos
da morte, mas também há perdas relacionadas com todas as mudanças pelas quais
passamos na nossa vida, tanto negativas quanto positivas.
O “ciclo da vida da humanidade” leva-nos a ter
que enfrentar não só a perda da pessoas que amamos; mas também perdemos as
ideias que tivemos sobre como seria nosso futuro. Nós perdemos os aspectos da
nossa identidade e do nosso modo de viver. Perdemos a familiaridade e conforto
do que nos é conhecido. Perdemos pedaços de quem nós éramos uma vez para nos
tornarmos quem somos hoje. Perdemos estrutura da família e rotinas e padrões do
nosso viver diário. Nós perdemos partes de nós mesmos.
Enquanto a perda que temos que enfrentar de
acordo com a nossa capacidade de viver, é muito
dolorosa e muitas vezes parece que nos é impossível de entender, será
também uma espécie de propulsor para termos novas ideias, e uma nova atitude perante
o viver a vida. A perda obriga-nos a
mudar o que pensávamos saber, o que cria espaço para integrar novas partes do
mundo e de nós mesmos. A perda também nos dá a oportunidade de contar com
nossos valores e crenças para viver de novo uma maneira mais intencional e
autêntica. A perda lembra-nos o que realmente importa no meio do “caos e da
confusão que por vezes invade a nossa mente”. A perda amplifica toda a nossa
vida de mil maneiras diferentes e tende a distorcer o tempo que temos que
enfrentar e nos faz sentir total incapazes de alterar o passado.
Eu, acredito que cada um de nós tem a
capacidade de crescer através do que passamos, e de nos mostrarmos mais de
acordo com a plena realidade das nossas
vidas e de sermos bondosos e amorosos com nós mesmos, não importando o que
esteja acontecer externamente e, ao mesmo tempo, acredito com todo o meu
coração. Eu acredito porque eu senti, eu vi, e eu continuo a sentir e ver
dentro de mim e ao meu redor. Eu já vi isso em todas pessoas de todas que
passam pela mesma situação na sua vida, superando todos os tipos de traumas,
vivendo com todos os tipos de desafios. A resiliência dos seres humanos surpreende-me todos os dias.
Mas, não posso deixar
de lembrar de que, no meio da perda, não há qualquer problema em não ficar bem
e, ter a perspectiva de que em breve, perceberemos que nos vamos
sentir um pouco melhor do que no dia anterior. Mas até lá, temos de nos cuidar, de respirar
e lembrar-nos sempre de que nós não estamos sozinhos. Talvez os pensamentos não
sejam sobre como chegar a um determinado lugar ou um “processo de seguir em
frente”, talvez seja sobre o tratar-nos suavemente neste processo e saber que
nos sentiremos melhor em alguns momentos, e saborear esses momentos como eles
são na realidade e não como nós pensamos como eles deveriam ser.
Sentir saudades é
absolutamente normal e comum, mas temos
de entender, que o passado não volta mais. Temos de ter capacidade de olhar
em frente! Viver a vida , o amanhã
talvez não exista, o passado já não volta mais! Hoje talvez tenha chegado a
hora de mudar…de “virar a página”!? (… de mudar o rumo e começar de novo)
“Não é verdade que as pessoas param de perseguir os
sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas porque pararam de
perseguir os sonhos.” (Gabriel Garcia Márquez)
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