AINDA
O MANIFESTO DOS SETENTA
Ao
constarmos a forma violenta como o governo e a tralha neoliberal, e mesmo o
senhor Presidente da República, reagiram a um simples manifesto não augura nada
de bom para a saúde da nossa democracia.
O
manifesto tocou noutra ferida do governo: os falsos e demagógicos apelos ao
"consenso". Ficou provado que é possível encontrar consensos na
sociedade portuguesa. O apelo à reestruturação da dívida reuniu pessoas de
todos os quadrantes políticos, de Bagão Félix a Francisco Louçã, de João
Cravinho a Carvalho da Silva. Até o incrédulo Jerónimo de Sousa, alinhou, ao
dizer: "Este manifesto só pecou por chegar tarde, mas mais vale tarde do
que nunca". Isto quer dizer que é possível alcançar consensos na sociedade
portuguesa, mas não à volta das políticas suicidárias do governo. E, assim, se
desmascarou o outro eixo do governo para enganar incautos e conseguir votos.
Não é um consenso com o maior partido da oposição que o governo quer. Quer
meter o país de cócoras à volta de um pensamento único - a austeridade e os
interesses dos "mercados"
Por
isso aqui fica algumas das REALIDADES A QUE FOI CONDUZIDO O NOSSO PAÍS PELO
GOVERNO PASSOS/PORTAS
•
A dívida pública portuguesa atingiu os 130% do PIB no final de 2013, o que
coloca Portugal como o sexto país do inundo com maior peso de dívida (à frente
estão Japão, Grécia, Líbano, Jamaica e Itália). A média da Zona Euro está nos
90%, já superior aos máximos registados no pós-Segunda Grande Guerra;
•
A factura de juros da actual dívida ronda os 4,5% do PIB ao ano. Para cumprir o
compromisso europeu mais básico, Portugal terá de caminhar para um excedente
orçamental antes de juros na casa dos 4% do PIB nos próximos anos, e de 3% na
década seguinte, valores nunca registados no Portugal democrático e difíceis de
encontrar na Europa nas últimas décadas. Acresce que o envelhecimento
populacional pressiona cada vez mais as contas e as perspectivas de crescimento
não são animadoras;
•
Todos, mesmo a troika, concordam que para a dívida pública ser sustentável,
será central que a economia cresça próximo dos 4% em termos nominais (2% em
termos reais), num momento em que decorre todo um debate internacional sobre a
possibilidade de termos entrado numa fase de baixo crescimento permanente nas
economias avançadas;
•
Na frente privada, as empresas e as famílias devem cerca de 280% do PIB, do
qual 165% está por conta das empresas, que ocupam o quarto lugar, no ranking da
Zona Euro. Para manter o "stock" de dívida privada constante, seria
necessário que o sector privado crescesse quase três vezes mais do que a taxa
de juro, num contexto de bancos com prejuízos e custos de financiamento
especialmente elevados;
•
Finalmente, entre 1970 e 2008, mais de 80% dos casos de incumprimento em países
de rendimento médio aconteceram com níveis de dívida externa (privada e
pública) inferiores a 80% do PIB. Entre 1970 e 2000, a média da dívida externa
nas economias avançadas foi de 55% do PIB. No final do ano passado, Portugal devia
ao exterior mais de 250% do PIB - quase cinco vezes mais.
Perante
estes valores, como digo, é muito mais estranho que se recuse debater o
problema, do que existirem 70 pessoas que considerem que a situação é
insustentável. Aliás, o risco de algum tipo de reestruturação é uma percepção
generalizada entre especialistas em endividamento. E é mesmo muito fácil
encontrar economistas da área financeira que as recomendam
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