“Quem tem algo por que viver, é capaz de
suportar qualquer coisa.” (Friedrich Nietzsche)
Há quem diga que o tempo é uma peneira. Dispersa
o ruído, faz cair todas as coisas secundárias e deixa-nos o que realmente
importa. Como já tenho escrito, nestes tempos que não são os nossos tempos, por
vezes sentimo-nos, no geral, numa fase de certo existencialismo, em que nunca
podemos perder o sentido e ter alguma consciência da idade que temos, e é
nesses momentos que pensamos fortemente sobre o que andamos a fazer aqui? A
realidade é que independentemente das questões científicas, é de elementar bom
senso concluir que “muitas situações de gravidade” estão ligadas a situações de
desespero, de frustração de expectativas, de falta de horizontes, de
incapacidade de superar dificuldades ou como tentativa de fuga a circunstâncias
de vida que o próprio se recusa a enfrentar. É por isso razoável pensar nesta afirmação atribuída a Sun Tzu: “No meio do caos há sempre uma oportunidade",
o que em muitos casos, talvez fosse
possível evitar a concretização dos desfechos trágicos e irreversíveis, caso
alguém tivesse conseguido atenuar as causas de tanto sofrimento. Estamos num
tempo de crise em resultado de uma pandemia que virou o mundo do avesso. Em
consequência, estamos à porta de uma crise económica que irá virar do avesso a
vida de muitas famílias. Quando e onde conseguimos destapar a realidade que está
por detrás de cada porta ou de cada pano que usamos para esconder as nossas
fragilidades?
O que aprendemos com esta pandemia? Este é um
exercício que provavelmente todos nós fizemos e ainda estamos a fazer, porque
não haverá quem não tenha aprendido algo que não irá esquecer, para o resto da
vida. Uma pandemia entrou de rompante nas nossas vidas e abateu-se sobre nós um
sentimento de medo e ansiedade. O que quer dizer que isto não está para
brincadeiras, agarramo-nos ainda a um optimismo crónico que nos permite ver o
lado menos negro destes dias carregados de incertezas, mas vivemos “um dia de cada vez”, gerindo as
rotinas e as emoções da melhor forma que sabemos, mas nem sempre certos de ser
o melhor caminho. Talvez por isso, será de muita utilidade recordar aqui alguns
dos ensinamentos do budismo: “Não viva no passado, não sonhe com o futuro,
concentre a mente no momento presente.”(Buda)
Temos a percepção de que os rendimentos, ou a
falta deles, é certamente uma das maiores causas de sofrimento e de desespero
no seio das famílias e conduz a situações limite. Nesta sociedade virada para o
crescimento económico em que o sucesso individual está muito ligado à
capacidade de acumular riqueza, e em que a solidão é uma jornada que não
podemos fazer uns aos outros, as situações de desespero relacionadas com o
desemprego, a precariedade laboral ou as baixas remunerações são normalmente
vistas como danos colaterais que o Estado, sempre ele, poderá eventualmente
ajudar a corrigir, tendo a capacidade de ter sempre bem presente que a solidão
também é parte da experiência da vida, e para que viver a vida nos faça sentir
bem, essa felicidade de cada um de nós, não pode ser plena enquanto a
infelicidade estiver, e nós sem o saber, ali mesmo ao nosso lado. Por isso, é
muito bom termos presente aquilo que disse Eloi Laurent ,um economista, norte
americano "O crescimento económico é um paradoxo mortal e também é uma
ilusão. Um gigantesco crescimento pode esconder a pobreza humana, como vemos
nos EUA"
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