O PAÍS ONDE TUDO ACONTECE OU NADA
APARECE QUE ACONTECE !
Como bem avisou
Oscar Wilde, com o seu sarcasmo imbatível, “se
disseres a verdade, vais ver que, mais tarde ou mais cedo, vais ser descoberto”.
Talvez sim ou talvez não, há por vezes esses sobressaltos que nos fazem pensar
vivermos num País onde tudo acontece ou pode acontecer.
Quando na passada
semana me encaminhava para o Cais do
Sodré, apreciando o novo passeio
ribeirinho, na Ribeira das Naus “olho o tejo” e vejo um cacilheiro, navegando
lentamente, o que é normal em passeios turísticos, o que me levou a reparar que se tratava do cacilheiro
"Trafaria Praia", (que pertenceu à frota da Transtejo) que foi transformado
em obra de arte pela artista Joana Vasconcelos, e terá em Maio de 2016
regressado ao rio Tejo, “para uma operação turística combinada de
percursos fluviais entre a Ribeira das Naus, no Cais do Sodré, o Terreiro do
Paço e Belém “ (pesquisa no Google!!) Este cacilheiro, que representou
Portugal na Bienal de Arte de Veneza de 2013, terá sido “adquirido” pela emresa
DouroAzul e terá realizado cruzeiros no Tejo entre Abril e Novembro de 2014, tendo
regressado a esta operação fluvial e, Maio de 2016.(recurso à Google….)
Ora acontece segundo
julgamos saber a operação de navegação no rio Tejo carece de uma licença para
esse efeito, que é concedida, ou era, pela Administração do Porto de Lisboa e
por isso, causa-nos alguma surpresa dado que essa mesma licença “para ocupação e uso privativo dos bens
imóveis do domínio publico hídrico e do domínio privado, exclusivamente afecto
à exploração dos transportes fluviais no rio Tejo” foi cedida por “contrato
de concessão” à Transtejo-Transportes Tejo SA, que também foi incumbida “ directa
ou indirectamente através de sociedades por si dominadas ou controladas, a
organização e gestão do serviço de transportes fluviais no estuário do Tejo”,
como pode “legalmente” tal operador promover percursos fluviais no estuário do
Tejo?

Talvez por isso, não
pude deixar de me lembrar da forma como José de Almada Negreiros, “Poeta
d’Orpheu, futurista e tudo”, escreve num seu texto onde zurze sem dó nem
piedade: “Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos
e de manhosos, e de mais manhosos. ”. O texto foi publicado no Diário
de Notícias em 3 de Novembro de 1933. E por isso, não vou escrever o óbvio!