“Quando não se tem nada, não há nada a perder.”
(Bob
Dylan)
Meu Caro li o teu mail, mas o tempo que julgamos ter nem sempre, o “quase sempre passa depressa”, os dias parecem ter menos de 24 horas, quem diria?
Ter um jornal local, ou de outra maneira “sustentar um veiculo de noticias locais” é e será sempre um enorme desafio, e que tens conseguido dar um sinal que estás vivo e se recomenda, também é sinal de mais experiencia, mais sabedoria, mais conhecimento, mais partilha, mais humanidade ao manter um “sitio” de cidadania activa.
Ter um jornal local, ou de outra maneira “sustentar um veiculo de noticias locais” é e será sempre um enorme desafio, e que tens conseguido dar um sinal que estás vivo e se recomenda, também é sinal de mais experiencia, mais sabedoria, mais conhecimento, mais partilha, mais humanidade ao manter um “sitio” de cidadania activa.
Costuma dizer-se que já sabemos que nem
sempre aquilo que parece é; mas convém não esquecer também que nem sempre
aquilo que é….é aquilo que parece. E, de facto, sendo um homem como o vinho,
como diria Confúcio, que o tempo faz azedar ou apurar, no caso concreto “como o
vinho é bom, o tempo vai apurado e melhorando”, “um
homem é um sucesso se pula da cama de manhã e vai dormir à noite, e, nesse meio
tempo, faz o que gosta” cumprindo deste modo os seus desígnios
de participação activa na vida local.
Não estou, nem podia estar, como dizes
“zangado”, talvez a palavra certa que possa dar sentido ao meu “estado” seja de
me colocar ao lado dos que “estão a soprar no vento”,
cansado ou desiludido, se alguma vez tal me passou como “modo de estar” ou
melhor dizendo sempre tentando fazer um esforço para não ser considerado na
categoria dos que como “uns sentem a chuva,
outros apenas se molham.”
Somos levado a acreditar na informação como bem público, na generalidade
as pessoas estão desinformadas ou mal informadas, não querendo ou não sabendo
que tem de ser preservado a difusão de informação livre , “ninguém é livre, até os pássaros
estão presos ao céu” para vivermos em democracia, o que “assistimos”
leva-nos a poder concluir que “quantos ouvidos o homem deve possuir até que possa escutar o choro do
povo?” sendo que, no próximo ano realizam-se eleições autárquicas
e se um voto democrático é um voto bem
informado, perante a actual situação
qual é a vantagem de lhes pedirmos que votem? É uma coisa importante. Deve ser
decidida com base em informação.
Para estar informado é preciso querer saber. E é preciso que alguém
trabalhe, “as pessoas não fazem aquilo em que acreditam. Elas apenas fazem o que
é conveniente, e então arrependem-se”, para que essa informação seja
encontrada, contextualizada, questionada e comentada, daqui a grande
importância que pode ser desempenhada pela imprensa local.
Mas, a verdade é que a maioria dos portugueses não acha que um jornal
valha o dinheiro do seu café e pastel de nata, dirão que são efeitos de uma herança cultural de baixa literacia “o que
é lento, logo ficará muito rápido. Como o presente, que mais tarde será passado”.
Tudo isto é triste, tudo isto é fado. O fado provinciano que leva algumas das
vítimas do saque neoliberal a defender, como se da sua equipa de futebol se
tratasse, que o fosso deve ser largo, que os milionários devem ser protegidos
de uma crise que deve ser paga com cortes em salários e reformas e pensões, uma
crise que esses mesmos milionários ajudaram a criar, com a qual obtiveram
lucros fabulosos e pretextos para baixar salários, reformas e pensões e agravar
condições de vida de mais de 95% dos portugueses.
Se posso opinar entendo que o actual papel dos "comentadores"
(TVs, rádios, jornais nacionais) é
semelhante ao dos cortesãos feudais, aconselhando os senhores a mudarem alguma
coisa mas sempre no interesse destes, “por mais que você seja, você nunca será maior que você mesmo.” O
seu discurso dominante actual não vai além do que é admitido pelos
"senhores" – os oligarcas – nem sai fora dos temas promovidos pelas
centrais de (des)informação a nível internacional. Exemplificando vimos os
comentários, contradições, tergiversações sobre a aplicação de
"sanções" pela UE daria um case study sobre o papel dos media ao
serviço da direita. Com o apoio dos seus apaniguados a direita instituiu a
mentira como sistema político, o jornalismo independente e deontologicamente
profissional foi varrido da imprensa portuguesas, pela precariedade e pelo
mercenarismo de "especialistas"/propagandistas, como resistência a
este estado de coisas ainda vive a “imprensa local”,
É no combate e participação activa de
cidadania contra percepção de que o Estado é incapaz de combater a concentração
da riqueza nas mãos de uns poucos (ou que contribui activamente para essa
concentração) desligitima a acção dos poderes públicos aos olhos de uma parcela
significativa da população. O problema é que isto gera um círculo vicioso, pois
quanto menos confiança se tem no Estado, mais difícil se torna mobilizar a
população para as reformas sociais que importa levar adiante. É por isso, “a melhor coisa que você pode fazer por uma pessoa é
inspirá-la, que um governo transformador não pode
deixar de trabalhar nas duas frentes: distribuir melhor os recursos sem nunca
menosprezar a importância de se credibilizar aos olhos dos cidadãos.
Armindo Bento
(economista-aposentado)
NOTA: As frases a negrito são
de Bob Dylan, pois tão surpreendente quanto oportuna, a atribuição do Nobel da
Literatura a Bob Dylan, «por ter criado uma nova expressão poética no seio da
grande tradição americana da canção». Um reconhecimento que vem além do mais em
tempos certos, de necessária mudança, de recuperação da dignidade (em tantas,
tantas coisas). Antes que fique demasiado escuro.
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