"A corrupção do Corregedor, que traz consigo os processos e a vara da Justiça, e do Procurador, com os seus livros, presentifica a magistratura."
Na obra "Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente uma obra criada noutros tempos que retrata a actual sociedade. Esta obra critica a população em geral levando ao ridículo os seus comportamentos de forma irónica e sarcástica. É no retrato da corrupção e dos valores da Justiça e a sua condenação moral que a mesma revela um conjunto de traços e tendências que permanecem imutáveis.
“O Corregedor e o Procurador aparecem juntos em cena, para por um lado quebrar a monotonia e por outro para alargar a crítica a todos os que trabalham com leis. Representam, assim a classe dos magistrados, criticando o funcionamento da justiça.
O Corregedor é quem se apresenta primeiro em cena, trazendo consigo os processos que representam a corrupção. No diálogo com o Diabo, mostra-se convencido de que a sua posição social o irá salvar. Seguidamente aparece o Procurador, que vem auxiliar o Corregedor, mostrando assim a cumplicidade que existia nos membros da justiça. Os seus símbolos cénicos são os livros.
Na obra "Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente uma obra criada noutros tempos que retrata a actual sociedade. Esta obra critica a população em geral levando ao ridículo os seus comportamentos de forma irónica e sarcástica. É no retrato da corrupção e dos valores da Justiça e a sua condenação moral que a mesma revela um conjunto de traços e tendências que permanecem imutáveis.
“O Corregedor e o Procurador aparecem juntos em cena, para por um lado quebrar a monotonia e por outro para alargar a crítica a todos os que trabalham com leis. Representam, assim a classe dos magistrados, criticando o funcionamento da justiça.
O Corregedor é quem se apresenta primeiro em cena, trazendo consigo os processos que representam a corrupção. No diálogo com o Diabo, mostra-se convencido de que a sua posição social o irá salvar. Seguidamente aparece o Procurador, que vem auxiliar o Corregedor, mostrando assim a cumplicidade que existia nos membros da justiça. Os seus símbolos cénicos são os livros.
Ambos são acusados de enganarem os mais pobres, de aceitarem dádivas dos Judeus, de julgarem mal os processos e de aceitarem roubos. O principal argumento dos dois é a sua posição social, argumentando também com o facto de dizerem que agiram sempre segundo a justiça e quando o Diabo acusa o Corregedor de aceitar as dádivas dos Judeus, este desculpa-se com a sua esposa, afirmando que ele não tinha nada a ver com isso.Ambos são condenados ao Inferno e no fim o Corregedor fala com Brízida Vaz (Alcoviteira), pois conhece-a dos problemas com a justiça.”
As personagens do Auto da Barca do Inferno podem ser encontradas, ainda hoje, no nosso dia-a-dia, se não vejamos: o Onzeneiro, que emprestava dinheiro e que pedia o dobro ou o triplo de volta, pode ser comparado com o actual monopólio da Banca, os seus sistemas de créditos e os juros aplicados; a Alcoviteira, com as suas meninas e o seu jeito depravado, pode ser hoje comparada com as donas de bordeis, que ganham a vida com a exploração e gestão da prostituição; o Procurador e o Corregedor, que actuam não sobre uma justiça com regras definidas e claras, mas segundo os seus princípios e interesses particulares, podem ser comparados com o sistema judicial actual, onde a justiça é muitas vezes difícil de se conseguir e sobretudo muito lenta.
Os objectos da crítica Vicentina – a corrupção na justiça, a prostituição, a ganância, a usura, a vaidade, a presunção do estatuto social, entre outros – ainda fazem parte da sociedade portuguesa contemporânea porque o cómico que criticava implicitamente a sociedade quinhentista consegue, ainda hoje, criticar-nos provocando-nos o riso.
Foi este o objectivo principal de Vicente: criticar de uma forma cómica mas nem por isso explícita e, assim, alterar os costumes de uma época marcada pela falta de valores que se estendeu até aos nossos dias, ou talvez corrigir os costumes, respeitando assim o ideal “ridendo castigat mores”.
“ Auto da Barca do Inferno -Texto dramático de Gil Vicente, representado pela primeira vez em 1516 em Almeirim. Neste ano, também se começou a imprimir nos Paços reais o "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende”