Li um dia destes que alguém terá dito que “o destino
é um lugar de onde nunca verdadeiramente se parte”, talvez assim seja ou
talvez não. Ao certo é que nestes tempos
em que impera a incerteza como um principio onde o certo é incerto, a verdade é
dúvida, o real é irrelevante, mas ninguém estava preparado para as incertezas
que estamos a viver, e onde a incerteza dos acontecimentos, sempre mais difícil
de suportar do que o próprio acontecimento. O pior dos sentimentos é a
indecisão, é ela que coloca em dúvida todas as certezas que achávamos que tínhamos, todas as verdades que acreditávamos e todos os caminhos que seguíamos.
Temos de concluir que não são as realidades da vida e as lutas diárias que nos
consomem... são as dúvidas e as incertezas que nos corroem, o no dizer do
escritor francês Victor Hugo,” que a vida já é curta, mas nós tornamo-la
ainda mais curta, desperdiçando tempo.”
É por isso, talvez que todos temos a necessidade
de algumas certezas. Claro que nenhuma vida é feita, inteiramente, de certezas.
Mas a maior parte de nós prefere viver do lado da certeza do que do lado da
dúvida nestes temos de, por vezes, sentir a ansiedade que nos sufoca. Não
precisa de lábios para se fazer ouvir, diz o que pensa com a força da mais
poderosa emoção. Nos últimos dois meses, vivemos em permanente estado de
ansiedade. Sempre o coração na ponta da língua. A vida transformada numa
migalha do que era. Mas ainda vamos no princípio do caminho. No princípio do
nada. Não há uma cura, não foi descoberta uma vacina. O vírus continua à solta
e pouco ou nada sabemos sobre ele. Será que a “normalidade”, tal como a conhecíamos, será
reposta com o desconfinamento?
Numa crónica escrita pelo cardeal José Tolentino
Mendonça onde fala, entre outras coisas, deste futuro que nos escapa, e da
importância da memória: “ As memórias são, como se sabe, moedas para ser
usadas no país do futuro”, escreve, com palavras vestidas de sabedoria. Ainda
não sabemos que futuro é esse, nem que país vai sobreviver à pandemia. Mas
memórias deste tempos estranhos não nos faltam, embora todos sentimos que há
que preencher este vazio do barulho agora inexistente, pois continuam a faltar-nos as pessoas na vida. Falta-nos as escolhas.
Falta-nos os hábitos que, por mais que nos esforçamos, não entram nos nossos
desábitos. No entanto como disse Eleanor Roosevelt: “O futuro pertence
àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Quase
todos podemos dizer que “temos saudades da nossa vida, pelo menos daquela que
estávamos habituados. Temos que ter consciência que estamos perante um “adversário”
desconhecido que nos obriga, a mim e a todos nós a renascer para uma vida diferente. Todos nós
sentimos medo de ser infectados e temos a obrigação e dever de tudo fazer,
cumprindo as indicações, por respeito por nós próprios e pelos outros. Temos
saudades das nossas rotinas, como todos os seres humanos,, mas temos que nos
adaptar a esta nova realidade, mesmo sabendo que é perigosa e invisível, sendo
que estes tempos nos levam, a todo, as ter mais consciência como é preciosa a
nossa saúde e a liberdade de viver a vida. Talvez comece a
sentir que me falta tempo, para não ter o tempo de que preciso. Tudo passa e,
um belo dia, todo este tempo, que agora nos é imposto, eu diria melhor
“aconselhado”, apenas irá parecer-nos um pesadelo de uma noite….ou como já
disse alguém, e ainda bem que ainda há gente bem intencionada para nos fazer
sorrir e assim podermos continuar a caminhar! “Onde quer que nos encontremos,
são os nossos amigos que constituem o nosso mundo.”(William James)