quinta-feira, abril 24, 2014

Os 40 anos do 25 de Abril de 1974

OS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL DE 1974

Há que lembrar que "quem fez o 25 de Abril foram exclusivamente os militares". "Não foram os civis, nem os partidos políticos", os militares, que revelaram "uma enorme tolerância". "Não quiseram o poder político, pelo contrário, abriram a porta aos partidos políticos. Revelaram um desinteresse extraordinário." (Mário Soares)
 Portugal mudou muito com o 25 de Abril, mas não mudou, nessa essência herdada de “décadas de ditadura medieval”, porque, afinal, razão tem Eduardo Lourenço – “a nossa democracia é ainda ao cabo de 40 anos um espécie de regime sem nome”, acrescentando que a revolução de Abril restitui-nos o gozo de “uma cidadania adulta”, onde “só o seu momento inaugural permanece vivo” – “uma memória viva” e “realmente memorável”.
Este golpe militar assumiu uma repercussão internacional pela forma não violenta como foram conduzidas as operações militares e pela influência internacional que teve no “dominó político” que pôs fim a alguns autoritarismos no mundo, a saber na Grécia, em Espanha, na Rodésia e na África do Sul.
Consolidar a democracia e aderir à Comunidade Europeia foram dois actos coerentes, e até necessários. Já a adesão -  ainda por cima sem consulta popular -  ao tratado de Maastricht (1992), que criou o caminho para a União Económica e Monetária, e para o Euro, foi um erro
“Portugal está condenado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo”- palavras de Gabriel Garcia Márquez citadas,   numa noticia do jornal «Público», recordando três reportagens do escritor sobre Portugal, num tempo em que ainda mal começava a nascer a ideia de adesão à União Europeia.
O escritor, nessas suas reportagens, também definiu Lisboa, como sendo “a maior aldeia do mundo” que, registou “nos restaurantes caros” os “mariscos são exibidos como jóias nas montras, os burgueses em retrocesso desancam verbalmente os comunistas”, e “nos restaurantes populares, os empregados perguntam se devem receber gorjeta”.
Um país que salientava Gabriel Garcia Márquez nascia para um tempo depois de “décadas de ditadura medieval”.
Leio estas palavras e penso no meu país, hoje, de facto sentado à mesa dos ricos “de sapatos rotos e casaco remendado”, onde os efeitos de “décadas de ditadura medieval” continuam a marcar as vivências do nosso quotidiano.
Estou mergulhado nestes pensamentos e dou comigo a ler, Viriato Soromenho Marques, que nos fala na necessidade de “refundar abril” e “cortar o novo nó górdio”, afinal esse, que Gabriel Garcia Marquez, antecipou e visionou nas suas reportagens, de estarmos de sapatos rotos e casaco remendado” à mesa dos ricos, essa mesa que bem sublinha Viriato Soromenho Marques, continua a ignorar que – “o federalismo tem que começar pela política e não pela moeda”.
“O que temos hoje é um mercado comum e uma moeda única que funcionam como máquinas de terror económico e social sobre milhões de mulheres e homens desprovidos de poder efectivo” – escreve Viriato Soromenho Marques, na sua crónica no JL, acrescentando que – Portugal deixou de ser um império colonial para se transformar numa colónia da burocracia de Bruxelas, ao serviço do capital financeiro, e da hegemonia defensiva de Berlim”.
“A divida é hoje a camisa-de-forças que esmaga os povos, destrói os estados, e aterroriza os cidadãos. E a procissão vai no adro.” – salienta Viriato Soromenho Marques.
Conclui no seu artigo – “ou fazemos um federalismo europeu para cidadãos europeus iguais. Ou, então, teremos de reclamar a soberania que nos foi usurpada”. O tal nó górdio a cortar.
O problema, esse é o problema real, é que, por muito que nos custe, este nó górdio é o nosso sistema – todos sabem isso.
Tenho muitas dúvidas, mesmo
muitas dúvidas, que este sistema pretenda deixar de ser aquilo que é, espelho desta nossa realidade herdada de “décadas de ditadura medieval”, que emerge quotidianamente nas vivências das cidades “aldeias” com ar cosmopolita, com uma cultura enraizada nesse «modus vivendi» da nossa «cultura politica», que bem traduziu Gabriel Garcia Marquez, gere a sua acção para que possa continuar, serenamente, a – “sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo”.
 É, por isso, só por isso, penso eu, que é na mudança dessa nossa raíz de “cultura politica” herdada de “décadas de ditadura medieval”, que reside a possibilidade de mudança, o que será muito difícil, mesmo muito difícil – basta recuar aos textos de Eça de Queirós e percebemos – porque a nossa realidade politica, afinal, ficou bem expressa, na premonição de Gabriel Garcia Marquez, quando visitou Portugal é de um país que – “está condenado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo”.

Pode ser que futuras gerações, um dia, revisitem aquele momento mítico do dia 25 de Abril e acreditem que Portugal pode ser um pais soberano e livre. Pode ser...   é preciso dar continuidade e rasgar caminhos para construir o novo ciclo aberto com o 25 de Abril, aqui, nesta “ocidental praia lusitana”!

sábado, abril 05, 2014

O pior cego é o que não quer ver

O pior cego é o que não quer ver

"Só sei que nada sei, mesmo assim sei mais do que aqueles que acham que sabem alguma coisa." (Sócrates- o filosofo)
 Julgo que estamos a passar uma fase, como uma espécie de síndrome da abstinência ou entorpecimento mental, que nos leva a não “desembrulhar” os nossos sentimentos, vontades e formas de participação na sociedade, mesmo não esperando  nenhuma ligação, ao simples facto de esquecer o telemóvel em casa, é capaz de deixar determinadas pessoas em pânico, outras não conseguem ficar em casa sem ligar uma televisão ou um rádio, com o risco de se sentirem incomodadas ou mesmo deprimidas,  por isso ao optar por ficar sozinhas com elas mesmas,  causa-lhes uma sensação de desalento.
Há quem diga que, a solução para estas coisas passa por deixar passar um dia a seguir ao outro, com uma noite pelo meio, vem isto a propósito de estarmos a “ser conduzidos” para um “buraco negro da não participação na vida social e política” através do “massacre diário” de mentiras, falsidades como “jogos de sombras” que nos entra pela casa a dentro, se por acaso ligamos a televisão ou temos o “agora mau hábito” de ler os jornais – como única opção o recurso à internet que, ainda e por agora, nos da a liberdade de escolha.
 Não resisto a esta não noticia sobre os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística cujos números da crescente pobreza que nos assola. Mais de dois milhões de portugueses vivem com menos de 409 euros por mês. Muitos deles com muito menos. Isto, em 2012. Hoje, em 2014, certamente tudo se agravou muito mais. Para além dos números, já por si cruéis, escondem-se os dramas pessoais de milhões de pessoas, desde casais e jovens desempregados e sem subsídio de desemprego a crianças com frio e mal alimentadas, idosos sem dinheiro para medicamentos ou uma mãe a empurrar a filha, numa cadeira de rodas, durante dez quilómetros, numa estrada nacional, para uma consulta médica. É um retrato desolador de um País cujo governo apostou no empobrecimento, nos salários baixos, nos serviços de saúde mínimos ou na miséria de reformados e pensionistas como "saída" da crise que a ganância dos especuladores bancários provocou.

Na verdade a não “utilizarmos a única arma que o povo tem – o voto - A maioria dos portugueses ainda está longe de ter chegado ao fim da sua caminhada para o calvário da pobreza. Todos os dias o discurso oficial nos avisa disso. Desde o  Presidente da República na afirmação que até 2035 os portugueses não deixarão de empobrecer para pagar as dívidas que os privados na sua maioria  contraíram, ora são as luminárias da situação, como o conselheiro de estado Vítor Bento que, do alto do seu bem-estar, diz: "O país empobreceu menos do que parece." Ou seja: ainda pode empobrecer mais, muito mais, como já tinham avisado outras luminárias, como por exemplo, o banqueiro Fernando Ulrich, com o " ai aguenta, aguenta" mais pobreza. Ou como disse uma a  Ministra das Finanças: os  são definitivos! Enquanto o primeiro ministro “enche a boca” afirmado que “não há alternativa”. Isto é “pobretes mas alegretes”.
 Por isso eu  diria que quanto à alternativa responderia   como o fez o economista dinamarquês
Bengt-Ake Lundvall, um dos subscritores estrangeiros do "manifesto dos 74", perante a mesma pergunta: "O que parece ser realizável hoje em dia está a levar-nos para muito próximo do fim do projecto europeu. Deste modo, a única estratégia possível é propor o que parece estar fora do alcance. Sabemos que a História nos reserva sempre surpresas de vez em quando - esperemos por uma surpresa positiva."
 E já agora a propósito do MANIFESTO DOS 70, independentemente de serem 74 personalidades, a demonstrar que de facto a alternativa existe, anda por aí um "pequenote" a bolsar, utilizando abusivamente os meios da SIC,  que o Manifesto não interessa aos Portugueses, que não teve Adesão, que já saíu da "agenda", que "já ninguém fala dele"  e... logo a seguir vem a notícia de que mais de 17 mil  Portugueses "desinteressados" assinaram a Petição quando só eram necessárias 4000 assinaturas!!! Quem é que anda a "atirar areia" para os olhos de quem? Mintam mais que eu gosto... Se é assim que pensam ser respeitados, não fazem a mais pequena ideia do que é ser Respeitador. (O manifesto foi igualmente subscrito por 74 economistas estrangeiros.)
 Quanto à petição à Assembleia da República  visa conseguir que os deputados aprovem “uma resolução recomendando ao Governo o desenvolvimento de um processo preparatório tendente à reestruturação honrada e responsável da dívida”, como se salienta na página oficial do Manifesto 74.“O abaixamento significativo da taxa média de juro do ‘stock’ da dívida, a extensão de maturidades da dívida para 40 ou mais anos e a reestruturação, pelo menos, de dívida acima dos 60% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo na base a dívida oficial”, são as condições preconizadas pelos signatários.
A iniciativa do Manifesto 74 pretende ainda que a Assembleia da República desencadeie “um processo parlamentar de audição pública de personalidades relevantes” sobre a reestruturação da dívida de Portugal, contraída no âmbito do programa de reajustamento.
 Como diz um ditado popular “O pior cego é o que não quer ver”, que significa “Diz-se da pessoa que não quer ver o que está bem na sua frente. Nega-se a ver a verdade.” Como facto Histórico: “Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D'Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.”

Publicado aqui : http://noticiasdealmeirim.pt/opiniao_completa.asp?id=590