SÓ PODE SER UMA “AVARIA CEREBRAL”?
Não podemos pactuar
com a onda de cinismo e hipocrisia que nos invadiu, não só a “classe politica, mas também jornalística”,
e foi alargada pela imprensa a propósito dos denominados incêndios em Pedrogão
Grande, pois também foram e são uma forma de mentir – exemplifica-se claramente
com a intervenção não só de Passos Coelho, no seu anuncio de suicídios, mas
também da muito “difundida queda de um avião” que, salvo melhores
conhecimentos, constituiu uma forma de alarme social grave, passível de
avaliação criminal, por parte de quem tem a obrigação e dever de zelar pelo
cumprimento das leis e defesa do interesse publico.
Com este grave
acontecimento ficou demonstrado claramente a clara incompetência daqueles que
deviam saber informar, esclarecer e dar conhecimento dos factos e dos
acontecimentos que pelo seu relevo público, devem ser participados pelas formas
diversas, em especial pelos “denominados profissionais da imprensa”, escrita e
falada, com maior relevo e responsabilidade para as televisões – o que vimos,
repetidamente foi a “tentativa de espectacularidade onde a sobriedade devia ser
realçada”, deixando-nos uma clara conclusão daquilo que todos já sabemos – a verdade e os jornalistas, incluindo
alguns políticos, estão há muito de relações cortadas!
É neste registo
manso que manifesto outras estranhezas, sabendo não só que “a melhor maneira de chegar a lado nenhum é
seguir a multidão”, e como diz um ditado popular “dificilmente se acerta o tiro, quando há mais alvos que balas”. Mas
nunca é tarde para aprender, pois quanto mais avançamos na idade e na vida,
mais sabemos que pouco sabemos – isto ajuda a sabedoria da humildade – tão
esquecido pelos “interventores” (políticos, comentaristas e outros servidores
da imprensa).
Hoje já sabemos que
houve 64 vitimas, das quais 47 pessoas morreram na Estrada Nacional 236-1 ou
nos seus acessos, sendo que pelos relatos, as vítimas do incêndio dirigiram-se
de Norte para Sul (de Castanheira de Pera para Figueiró dos Vinhos), enquanto
que a GNR cortou o IC8 às 18h50, dando como alternativa a EN 236-1 no sentido
Figueiró dos Vinhos-Castanheira de Pera (isto é Sul para Norte), não há registo
público de uma vítima que tenha seguido no sentido Sul-Norte, em resultado
dessa ordem. Por outro lado é conhecido
que na zona de Escalos Fundeiros, há registos de
300 descargas eléctricas na zona e que houve condições de excepcional
complexidade que levaram a uma propagação rápida do incêndio — o tal fenómeno
downburst, "ou seja, vento de grande
intensidade que se move verticalmente em direcção ao solo, e que após atingir o
solo sopra de forma radial em todas as direcções". E o que tem feito alguns políticos e a
nossa imprensa?
O mais grave é que se “esqueceram” de realçar o
trabalho incansável e perigoso realizado pelos bombeiros, nesse dia houve mais
de 150 incêndios no nosso País, pelas forças de segurança e pelos militares na
defesa das populações e dos seus bens, com enorme sucesso, basta comparar com
os incêndios em Espanha, na semana passada, e cuja gravidade não é comparável,
que foi apenas um incêndio comum, não associado a uma trovoada seca, nem ao
fenómeno do downburst (parecido com tornado) dando preferência a discussões –
como alguns disparates de gentes atrasados mentais em que afirmavam que “as
faíscas são comparáveis a um isqueiro”-, gente que desconhece a força de um
trovão, de descargas eléctricas, mais perigosas em tempo seco, que destrói
qualquer árvore de grande porte – nunca viram? Ou que repetiam quando se
“demitia este ou aquele” – será que esta gente serve o País?
“No entanto, muito eu gostava que se parasse
de achar que é através do Direito Penal que se resolvem os problemas das
vítimas. É todo um gerar de expectativas impossíveis de satisfazer que desgasta
a justiça penal, criando pressões para condenar a todo o custo e frustração perante
absolvições necessárias. A existência de falhas não é sinónimo de
responsabilidade penal. Pode haver responsabilidade política, administrativa,
civil. Não é através do Direito Penal que se vão resolver as eventuais falhas
de previsão, coordenação ou resposta que se venham a detectar. É através dos
meios administrativos (planeamento florestal, medidas de contenção da floresta
junto a habitações, melhoria do sistema de comunicações, melhoria da resposta
da protecção civil, GNR, bombeiros, etc.).Não é através do Direito Penal que
vamos compensar as vítimas. É através do direito administrativo e civil
(reconstrução e indemnizações).”
Não há responsabilidade penal colectiva. Estamos a
falar de pessoas que estavam no terreno, num dos piores incêndios de sempre.
Terrível, imprevisível, impiedoso, será que o “guru” Marques e o seu “líder”
Passos não sabem disso?
E, ainda lamentável
e triste, foi ver o pobre do senhor “Passos
Coelho, que com a lucidez de uma barata tonta, oscila sem sentido que nem um
tornado, veio subitamente em defesa das celuloses proclamando que não são os
eucaliptos os responsáveis pelos incêndios, mas sim o mato a seus pés. Bravo,
descobriu a pólvora — literalmente! De facto, o fogo nunca começa por cima,
pela copa de árvore alguma. Começa sempre por baixo, pelo mato, pela resina,
pela caruma dos pinheiros, pelo que houver de combustível em baixo”. Sabia
disto? É verdade que Passos nunca teve especial apego pela verdade nem,
tão-pouco, revelou quaisquer vestígios de pudor na moderação do verbo, do
recurso à demagogia desmedida ou mesmo à aldrabice pura e simples. Posto isto, sugiro que alguém lhe empreste um espelho,
uma Constituição e um álbum, comparado, de recortes dos jornais do tempo do seu
governo com as metas que aceitou, e falhou, e os sacrifícios que, em vão, impôs
a milhões de Portugueses.
Armindo Bento
(economista –aposentado)