"Há quem se deleite com o triunfo da táctica
sobre a substância, do golpe sobre a coerência, da necessidade de um posto de
uma liderança partidária sobre o que interessa verdadeiramente aos
trabalhadores e às empresas" (Dr. Vieira da Silva)
Perante os
factos…creio que ninguém foi surpreendido pela aprovação do “projecto do PCP e
BE”, que cessa a vigência da redução da TSU e que foi aprovado com os votos a
favor do BE, PCP,PEV e do PSD com a abstenção do CDS e PAN e os votos contra do
PS, e por isso me apetece dizer que o “piruetas” – qualificação dada no debate
a Passos Coelho – não conhece, o que também não admira – a Lei de Pareto.
Ao longo do debate,
o PSD de Passos Coelho nunca conseguiu descolar da ideia de que a razão maior
da birra contra a aprovação da baixa da TSU esconderia na verdade uma oposição
ao aumento do salário mínimo, aliás o que ficou bem vincado que o PSD de Passos
Coelho “ não está tanto contra esta
medida mas contra o aumento do salário mínimo”. Nada disto enobrece ou
contribuiu para uma democracia saudável. Este é o problema do PSD. Enredou-se
numa teia de factos alternativos num tempo da já insuportável
ideia da pós-verdade. Corre agora o risco de cair num mundo distópico, em
que a verdade de ontem pode ou não ser a verdade de hoje. Depende das oportunidades
e das conveniências Nada disto é normal…!
Quem ontem, teve a
paciência necessária para acompanhar nas televisões em direto o debate
parlamentar em que se discutiu se a TSU das entidades patronais ou dito de
outro modo “dos patrões”, deve ou não baixar, para compensar a subida do
salário mínimo (remunerações mínimas garantidas
e não o impropriamente classificado como “salário mínimo”- fico na duvida
se os “senhores políticos e jornalistas sabem isso?”) de 530 para 557 euros. Só
os pode ter visto, mas não ouvido e muito menos escutado. Os dedos em riste, as
expressões faciais vincadas, os sorrisos irónicos ou cínicos, os aplausos
entusiasmados “aos chefes”. Foi isto o culminar de quatro semanas de troca de
argumentos, de cambalhotas políticas e acrobacias retóricas. Os entendidos chamam a isto debate político.
Olhando para as bancadas do Parlamento, assim, sem som, diria que é um teatro.
Um teatro absurdo, se tivermos em conta que, na sua origem, está, afinal, se é
ou não possível pagar mais um euro por dia a cerca de 650 mil trabalhadores. E
já agora quanto terá custado está “sessão parlamentar – para lamentar- ao País
e aos portugueses?
E a este propósito
ficou claro que os “spindoctors” de Passos Coelho não conhecem, ou com a pressa
toda não se lembraram dos conceitos transmitidos pela Lei de Pareto (também conhecido como princípio
80-20). A lei baseia-se na verdade no
Princípio 80/20, descoberto em 1897 pelo economista italiano Vilfredo Pareto
(1848-1923), segundo o qual 80% do que uma pessoa realiza no trabalho vêm de
20% do tempo gasto nesta realização, e num estudo sobre a distribuição da
riqueza em diversas sociedades, Pareto notou em todas elas que uns poucos
detinham uma grande parte da riqueza (20% da população detém 80% da riqueza),
ao passo que cerca de metade da população detinha um valor muito reduzido (50%
detêm 5%). Logo, 80% do esforço consumido para todas as finalidades práticas
são irrelevantes. Para aqueles que já ouviram falar sobre a lei de Pareto e no
seu impacto na gestão de tempo, gestão empresarial, economia, desenvolvimento
pessoal, entre outros, e também agora fomos confrontados com disciplinas na área das
ciências sociais e neste caso concreto com a “gestão das expectativas da acção politica”.
É que para mim o que
esteve em causa neste simulacro de debate politico foi tão só aquela fatia de
eleitores que se exprimem, em cada momento, através do voto e de acordo com os
seus interesses, cerca de 20% dos “eleitores considerados de direita e que “praticam
o voto volante” e o objectivo do Partido Socialista foi dar espaço para que na
comunicação social, em particular nas televisões, passasse a imagem do PSD a
votar contra uma solução acordada em concertação social que favorecia as
empresas. O Governo quis assim capitalizar politicamente a “fotografia” de
Passos Coelho e os outros deputados do PSD a levantarem-se no hemiciclo de São
Bento e a votar ao lado dos do BE, PCP e PEV e deste modo conseguir capitalizar
esse voto. Isto é enquanto o Governo fez os seus cálculos, olhou para aquilo
que têm sido as posições do PSD, que sempre afirma que “o interesse do país
prevalece sobre o interesse do partido”, conseguir demonstrar que neste caso, o interesse de Passos Coelho com os seus deputados
prevaleceu sobre o interesse do País! Muito estranha, a visão de Passos
Coelho sobre a política e a sociedade. A sua raiva latente, que leva ao triunfo
do populismo e da demagogia às raias do absurdo, tem saltado para a rejeição
cada vez maior não só dos cidadãos, mas também do jornalismo e dos comentadores,
e, por isso como disse Sá Carneiro, “A
política sem risco é uma chatice, sem ética é uma vergonha”.