domingo, maio 16, 2021

“ Só as mãos que se estendem para a frente interessam.” ( Mário Dionísio- poeta português)

“ Só as mãos que se estendem para a frente interessam.” ( Mário Dionísio- poeta português) Nestes tempos, como noutros, assistimos a uma narrativa dos acontecimentos que perturbam as nossas rotinas, e que em simultâneo percorre diversos estados emocionais, o que nos leva a sentir que temos liberdade, mas no fundo não a temos. Há uma realidade que ao olhar para as fortunas que se gastam a tentar descobrir drogas que nos ponham a dormir, sem nos dar cabo do cabaço, e depois olho para o sono solto do meu Júnior ( é o meu cão) e pergunto se não faríamos melhor em estudar o jeito que os cães têm para dormir. Quando está a dormir, o Júnior ausenta-se absolutamente do mundo e de todos os seus incómodos. Não há sol, por muito brilhante, que lhe penetre as pálpebras e todas as persianas de que elas dispõem. Tudo leva a querer que compreendeu os ensinamentos da sabedoria e, agora pode dormir o sono dos justos ! “Eu sei que o silêncio muitas vezes tira a vontade de alguém ouvir uma palavra, mas tem hora que as palavras doem mais do que o silêncio.”( Karl Marx) Segundo dizia o filósofo Avicena, que numa sua referência ao tolos , “um sábio sabe sempre a diferença entre as coisas que estão certas e as que estão erradas. Quanto ao “tolo” não sabe disso. Então qual será a solução: bata-se nele com um chicote até que ele grite: "basta, basta: isso é errado". Pronto. Agora ele aprendeu a diferença entre o certo e o errado.” É claro que isto era noutros tempos. Ou talvez seja como disse Simone Weil :“ A alegria é a nossa evasão do tempo. O bem é aquilo que dá maior realidade aos seres e às coisas; o mal é aquilo que disso os priva.” Mas de volta ao Júnior quando acordado não há nada que não ouça, não cheire, ou não veja. Mas quando dorme é como se estivesse morto. Só as suas patinhas , por vezes, parece-me que estão a tremer, para fazer de electrocardiograma e dissuadir-me de ir abaná-lo para ver se está vivo! Faz tudo isso muito depressa, consciente que o relógio não pára e que o tempo não espera por ninguém. Ao certo é que dorme o que precisa de dormir e está sempre bem-disposto – e até sabe quando quer ir dormir , o que vem dar ao mesmo. O que é que ele sabe que nós não sabemos? “Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz.” (Milan Kundera) A este propósito hoje lembrei-me do que disse Simone Weil “que o trabalho protege-nos do delírio”. Porque nos obriga a confrontarmo-nos com a nossa condição de humanos. Ao trabalhar, temos de nos confrontar com a realidade, com a natureza, com os outros. Trabalhar significa sempre, independentemente da profissão e das funções, fornecer esforço e vencer obstáculos. É assim que cada um de nós obtém o nosso sustento e satisfaz as nossas necessidades. “Menosprezar a inteligência é degradar o ser humano por inteiro. A forma contemporânea da grandeza verdadeira é baseada em uma civilização estabelecida sobre a espiritualidade do trabalho. “(Simone Weil)