Na anormalidade deste governo, tudo passou a ser normal e por estranho que pareça, «ninguém reclama», porque quem tem o dever e a possibilidade de reclamar, foi nele que votou e quem lá o colocou. Por mim estou plenamente à vontade, exerci o meu direito de cidadania no Governo anterior e sofri as consequências desses meus actos de autonomia e liberdade de pensamento.
É de facto "estranhíssimo" que todos aqueles que censuraram o Governo anterior por certos comportamentos, considerados “desviantes em democracia”, estejam agora completamente á vontade para aceitar e até achar normal os mesmos comportamentos por parte de um governo de “cor politica diferente” (será mesmo), mas ainda mais incompetente na sua actividade que deveria ser de servir o interesse púbico dos cidadãos e do País e não o dos “seus protectores” .
Será falta de coerência, ou será tipo “coluna na horizontal”? É infelizmente um mal que nos assola de há uma década para cá.
Imagine-se o que aconteceria se no Governo anterior viesse um secretário de Estado anunciar uma medida para de seguida ser categoricamente desmentido por um ministro. Foi o que aconteceu com o anúncio, e posterior negação, da revisão das tabelas salariais da função pública. Mas não é a primeira vez, a coisa parece estar a tornar-se um hábito neste Governo. Há dias foi o ministro da Economia a desdizer-se a ele próprio quando veio dizer que o encerramento do metro às 23h00, afinal, não fazia sentido. Se acontecessem semelhantes trapalhadas no Governo de Sócrates as acusações de desnorte, incompetência, etc. seriam imediatas. A oposição exigiria explicações e muito provavelmente não faltariam pedidos de demissão dos governantes. Já para não dizer que Sócrates seria acusado de manipular e de usar a comunicação social, coitadinha, para nos enganar. Agora parece normal o Governo dizer uma coisa num dia e desdizê-la com toda a calma no seguinte. Somos tratados pelo Governo e comunicação social como se tivéssemos todos cinco anos e ninguém reclama. Não admira que o Governo seja tão elogiado pelos senhores da Troika, que, aliás, parecem ter entrado também neste divertido jogo ao sugerirem os cortes nos vencimentos do sector privado para de seguida o Governo os desmentir. São uns génios estes nossos governantes.
E já agora o que é que acontecia se uma assessora passasse de jornalista-assessora-administrador em pouco mais de 5 meses?
E se os que têm o dever de defender os princípios e valores do Estado o não fazem há que devolver o poder aos cidadãos.
A insinuação de que quem faz uma greve por discordar de uma política de austeridade violenta está a dividir os portugueses ou insinuar que os que fazem greve não querem trabalhar são argumentos com a marca ideológica do Estado Novo. Estes ministros esquecem que não o são por obra e graça de Deus, mas porque foram realizadas eleições democráticas e fazem parte de um governo aprovado por um parlamento, por isso os seus juízos de valor sobre a forma como os cidadãos livres deste país exercem os seus direitos constitucionais é imprópria de uma democracia.
Espero, sinceramente, que o Benfica- Sporting seja uma festa. A última vez em que isso aconteceu foi em 31 de Maço de 1974. O povo todo a aplaudir Marcelo Caetano, de pé. 25 dias depois o velho ia de férias para a Madeira e Portugal conhecia a Liberdade.