No que consiste este troikismo
ao quadrado?
É uma política económica que combina o ultra-liberalismo com o
estalinismo. É ultra liberal no ódio ao Estado, a tudo o que cheire a social, a
direitos sociais, a princípios constitucionais que interfiram com a economia. É
estalinista porque tem pouca consideração pelos mercados e decide ao nível
central quais os sectores que devem ser salvos e quais os que devem ser
eliminados.
A economia do País foi sujeita a um verdadeiro plano quinquenal
estalinista em que se pretendia reformatar tudo e todos no pressuposto de que
no fim do plano quem estava a mais no país teria emigrado, os empresários de
sectores considerados inúteis estariam falidos, as empresas consideradas
necessárias seriam salvas com o dinheiro cobrado aos contribuintes.
Destruíram-se sectores inteiros como a restauração, o pequeno retalho ou a
construção civil, ao mesmo tempo cortaram-se subsídios a todos os portugueses
para com esse dinheiro tapar o buraco do BPN e emprestaram-se milhões aos
bancos emprestados com dinheiro da troika cuja garantia é dada por uma política
brutal para o cidadão comum.
O Portugal do Gaspar faz lembrar a China estalinista de Mo-Tse-Tung.
(retirado de
www.jumento.blogspot.com)
As teses de Mário Murteira,
economista íntegro e digno, falecido à muito poucos dias, onde divulga o seu
pensamento mais recente sobre a "crise" que nos ameaça:
Primeira
tese: esta crise
não tem precedentes comparáveis. A presente crise tem contornos específicos sem
precedente na história do capitalismo. É ilusório, por exemplo, compará-la com
a «Grande Depressão» dos anos 30 do século passado. A «novidade» essencial
reside na dimensão colossal dum capitalismo financeiro globalizado, que sem
apelo submete à sua lógica a chamada economia real, ficando esta entregue à
ganância da acumulação mercantil, sem regulação digna desse nome.
Segunda
tese: a economia é
importante, os economistas, não.O pensamento económico dominante, de feição
«neo-liberal», é irrelevante para a análise da presente crise, embora possa
servir – como no passado recente serviu– de justificação ideológica para uma
política de «mais do mesmo».
Terceira
tese: a «Ciência
Económica» passa ao lado da crise. Um paradoxo da presente conjuntura reside na
irrelevância da «Ciência»Económica dominante, contrastando com o implacável
domínio do «económico» no funcionamento das sociedades actuais. Daí o
descrédito da classe profissional dos economistas na interpretação do que
acontece na economia real. O autor destas linhas sabe bem como era prestigiado
o «economista» nos anos 60/70 do século
passado, mesmo em Portugal, ao contrário do que hoje sucede
Quarta tese:
Marx e
Schumpeter enganaram-se ambos sobre o destino do capitalismo e, tal como eles,
ninguém pode prevê-lo. Joseph Schumpeter, nascido no ano da morte de Karl Marx
(1883), foi talvez o maior economista da primeira metade do século passado e
considerava Marx um dos maiores economistas de sempre. Pela amplitude da sua
«visão» da História, Schumpeter tinha também grande admiração pelo capitalismo,
fundada no seu processo de inovação ou «destruição criadora», o grande papel
histórico do empresário empreendedor. Grandes economistas com visões opostas do
capitalismo tinham todavia algo em comum: observavam-no como um processo
histórico em
movimento, uma totalidade em que o «económico» é a dimensão porventura condicionante do todo.
movimento, uma totalidade em que o «económico» é a dimensão porventura condicionante do todo.
Quinta tese:
é preciso
criar nova concepção de regulação do capitalismo, nova nos meios como nos fins.
Diz-se que alguém «não regula bem», quando apresenta sintomas de distúrbio ou
perturbação mental. Quando hoje observamos os comportamentos de entidades como
o FMI, o Banco Mundial ou o Banco Central Europeu, podemos dalgum modo reconhecer
que por vezes não regulam bem, ainda nesse sentido. Observe-se por exemplo, o
tom solene com que se fazem previsões (até às décimas!) sobre a variação anual
do PIB ou se apela para o respeito dos «Fundamentals» da Economia.
Como se apenas os governadores dos bancos centrais, literalmente,
penetrassem no segredo dos deuses.”Quando observamos os comportamentos do FMI,
Banco Mundial ou Banco Central Europeu, podemos dalgum modo reconhecer que por
vezes não regulam bem”.
Sexta tese: sim, não sabemos para onde
vamos, mas ao menos importa saber donde viemos, para procurar outros sítios.
Não viemos apenas dum sistema económico dominado pela especulação financeira.
Viemos também de um mundo de tremendas desigualdades, de generalizada corrupção
a todos os níveis, de declínio dos valores éticos em contraste com o predomínio
dos valores bolsistas, onde terrorismos desesperados emergem, em particular
junto de jovens que não encontram outras formas de dar sentido às suas vidas. A
«crise» é, sem dúvida, económica, mas também civilizacional e cultural