"Enquanto a vida durar,
vamos continuar com a história".
(Carmen Martín Gaite)
Vivemos num contexto de total incerteza, com um
vírus novo e de comportamento imprevisível, por tempo indeterminado. Nada é
mais terrível para os cidadãos e m especial para os políticos, os que dirigem e
os outros. Falar é quase sempre falar cedo demais. Declarar vitória é dar tempo
à derrota na curva seguinte. Afirmar é fazer figas. Orientar é tentar manter as
coisas a andar. Como muitos, achei que a pandemia me ia dar tempo
de sobra para ler. Como muitos, acabei atulhado em textos e livros sobre o
vírus e todas suas declinações, sociais, políticas, económicas, tudo matérias
que já me estafam e não me dão qualquer tipo de “gozo”. “O livro traz a
vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.”(Mario
Quintana)
Por vezes podemos pensar que a vida é mais
simples a preto e branco, no entanto ela é bem mais complexa do que a resposta à pergunta: a culpa de quem é? Talvez
por isso, nestes momentos de muito desconforto, rememoramos o que disse Marie
Curie (primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel): “Nada na vida deve ser temido, deve ser
entendido apenas. Agora é a hora de entender mais, de poder temer menos ”.
Temos que ter a noção de que tristeza e depressão
não são a mesma coisa, na medida em que todos nos sentimos tristes num momento
ou noutro e essa tristeza tem geralmente uma duração limitada e com reacções
emocionais adequadas à situação. Se perdemos alguém que amamos, se há uma
separação ou afastamento de alguém ou de alguma coisa de que gostamos, é
esperado que fiquemos tristes durante algum tempo, mas, aos poucos, o nosso
humor vai melhorando e ganhamos novamente vontade de fazer coisas que nos dão
prazer. Na depressão é diferente. Os sentimentos e sintomas negativos não
desaparecem ao fim de algum tempo e até se intensificam. Como disse Friedrich
Nietzsche:” O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.” A ideia do filósofo é mostrar como somos
capazes de aprender e ficar mais fortes emocionalmente a partir das nossas
experiências de vida, incluindo (e principalmente) as mais difíceis e dolorosas
.
Ao longo
dos meus tempos de vida sempre reconheci que o futebol foi para mim “uma escola
de aprendizagem para a vida”, tal como Albert Camus escreveu a sua frase mais
famosa sobre o desporto: “Tudo quanto sei com maior certeza sobre a moral e
as obrigações dos homens devo-o ao futebol”. Não pense primeiro em si.
Pense em todos. É a única forma de todos pensarem em si. Nem pânico, nem
descontracção. Apenas consciência da gravidade da situação. Cito aqui uma frase
que li à dias: “Este é um momento assustador. Mas já vivemos tempos
assustadores antes.”
E tal como o recurso á leitura nos ajuda a
relativizar tudo, também esta certeza nos dá uma estranha tranquilidade em
tempos tão incertos. Talvez porque, como Alberto Caeiro (na pele de Fernando
Pessoa) disse, melhor do que ninguém: "Quando vier a primavera, se eu
já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira e as árvores não serão
menos verdes que na primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto
uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma. Se
soubesse que amanhã morria e a primavera era depois de amanhã, morreria
contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia
ela de vir senão no seu tempo?"
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