O medo, o desconhecido, a incerteza e a sobrevivência.
Hoje surgiu no meu pensamento que ainda há mais
de 400 mil portugueses que sabem, por experiência própria o que é o medo, o
instinto de sobrevivência, o desconhecido e a incerteza do amanhã. Se nos dizem
que temos de ser pacientes, mas ao mesmo tempo solidários e responsáveis é
chegado o momento de transmitir aos filhos(as),netos(as) e a todos os amigos (as) essa nossa
experiência, que nos bateu à porta em determinado momento da nossa de vida e
como sobrevivemos numa guerra, onde “jovens como nós fizemos o trabalho de
graúdos…e onde eramos um por todos e todos por um!”
Como diz a sabedoria popular: “O medo corrói e
destrói!”. E o ser humano, como algo imperfeito que é e sempre será, é
naturalmente um ser amedrontado e cheio de incertezas quando perante o
desconhecido. Mas, não é vergonha ter medo! Podemos e devemos aprender a viver
com tudo isso, a combater e a ir ultrapassando, mas nunca nos livraremos em
definitivo de tudo o que nos deixa com dúvidas, desconfianças e medos.
Vamos ser muito claros , é socialmente
irresponsável – uma negligência absurda – dizer e pensar “isso não vai me afectar”,
“eu não vou mudar a minha vida por causa disso” ou “não faço parte de grupos de
alto risco, então estou de boas”. É responsabilidade de todos levantar as nossas
vozes quando vemos esse tipo de discurso e corrigi-lo de imediato.
Somos saudosistas, desenrascados... Os rótulos
são muitos, mas como nos comportamos hoje? Que dizer do estado de espírito dos
portugueses? Estamos mesmo mais pessimistas ? Irritantes ou cautelosos? E que
mais se pode dizer do estado de espírito dos portugueses, indo além dos rótulos
de inveterados saudosistas, hospitaleiros mas soturnos, povo preso à nostalgia
do fado? Vidas cada vez mais aceleradas, stresse, burnout, ligados, digital...
O que marca hoje o comportamento colectivo dos portugueses não será muito
diferente do que acontece um pouco por todo o mundo ocidental. Se estas
dificilmente serão marcas exclusivas portuguesas, há alguma ironia: ser
desenrascado, uma das imagens de marca lusas, pode não ser um bom auxílio face
a tempos “estranhos” “Somos mesmo desenrascados. Mas o desenrascar, em certos
aspectos, desmotiva as pessoas de pensar no que podem fazer para mudar”. Somos
formatados pelos outros. Estamos completamente dependentes dos meios
tecnológicos. O respeito deu lugar ao cinismo. O balanço entre pânico e inércia
é difícil de acertar, pois nunca vivemos uma situação assim na era
contemporânea precisamos estar dispostos a mudar radicalmente os nossos modos
de vida – e talvez até o jeito que pensamos sobre a sociedade em que vivemos. E
a razão, provavelmente, não é para proteger a si mesmo, mas para ajudar a
sociedade como um todo e as pessoas mais frágeis e expostas. É hora de pensar
nos outros de facto.
Fiquem em casa, não açambarquem bens de consumo,
cumpram as indicações técnicas emitidas pelos órgãos de saúde, contactem-mas não
vão presencialmente, pensem na vossa família e nos outros que também têm
família para melhor cuidarmos dos outros, e pensem que também ninguém precisa
de heróis mortos.
Quero deixar bem claro que os devaneios de irresponsabilidade
aplica-se àqueles que se passeiam por praias, esplanadas, discotecas ou centros
comerciais, em bandos de pardais à solta, na base do instinto, sem capacidade
de pensar como seres humanos.
E, aqueles que consideram as pessoas que têm mais
de 60 anos ou os doentes com outras doenças crónicas (co-morbilidades) como
descartáveis, é uma atitude censurável que faz lembrar o nazismo, em absoluto
desprezo pela vida, atitude que deve merecer o nosso descontentamento, a nossa
revolta, o nosso desprezo, em louvor à vida e ao humanismo.
Vamos ter de reflectir sobre o dia seguinte à
derrota do vírus….só não sabemos, nem ninguém sabe quando chega esse dia!!! só os poderes do Estado conseguem impor um estado
de excepção. Temos de o aceitar por absoluta inexistência de alternativas. Por isso se pedem medidas para travar abusos – ou
seja, mais controlo social. Por isso, deixemo-nos da caça às bruxas, de
perguntar de quem é a culpa ou porque é que tudo isto aconteceu, e perguntemos
antes o que podemos aprender com isto. Creio que temos todos muito para reflectir
e fazer. Começamos hoje porque amanhã pode ser tarde! Por vezes dizemos que “é
preciso pagar um preço”….talvez esteja correcto!
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