quarta-feira, março 18, 2020

O medo, o desconhecido, a incerteza e a sobrevivência.


O medo, o desconhecido, a incerteza e a sobrevivência.

Hoje surgiu no meu pensamento que ainda há mais de 400 mil portugueses que sabem, por experiência própria o que é o medo, o instinto de sobrevivência, o desconhecido e a incerteza do amanhã. Se nos dizem que temos de ser pacientes, mas ao mesmo tempo solidários e responsáveis é chegado o momento de transmitir aos filhos(as),netos(as)  e a todos os amigos (as) essa nossa experiência, que nos bateu à porta em determinado momento da nossa de vida e como sobrevivemos numa guerra, onde “jovens como nós fizemos o trabalho de graúdos…e onde eramos um por todos e todos por um!”
Como diz a sabedoria popular: “O medo corrói e destrói!”. E o ser humano, como algo imperfeito que é e sempre será, é naturalmente um ser amedrontado e cheio de incertezas quando perante o desconhecido. Mas, não é vergonha ter medo! Podemos e devemos aprender a viver com tudo isso, a combater e a ir ultrapassando, mas nunca nos livraremos em definitivo de tudo o que nos deixa com dúvidas, desconfianças e medos.
Vamos ser muito claros , é socialmente irresponsável – uma negligência absurda – dizer e pensar “isso não vai me afectar”, “eu não vou mudar a minha vida por causa disso” ou “não faço parte de grupos de alto risco, então estou de boas”. É responsabilidade de todos levantar as nossas vozes quando vemos esse tipo de discurso e corrigi-lo de imediato.
Somos saudosistas, desenrascados... Os rótulos são muitos, mas como nos comportamos hoje? Que dizer do estado de espírito dos portugueses? Estamos mesmo mais pessimistas ? Irritantes ou cautelosos? E que mais se pode dizer do estado de espírito dos portugueses, indo além dos rótulos de inveterados saudosistas, hospitaleiros mas soturnos, povo preso à nostalgia do fado? Vidas cada vez mais aceleradas, stresse, burnout, ligados, digital... O que marca hoje o comportamento colectivo dos portugueses não será muito diferente do que acontece um pouco por todo o mundo ocidental. Se estas dificilmente serão marcas exclusivas portuguesas, há alguma ironia: ser desenrascado, uma das imagens de marca lusas, pode não ser um bom auxílio face a tempos “estranhos” “Somos mesmo desenrascados. Mas o desenrascar, em certos aspectos, desmotiva as pessoas de pensar no que podem fazer para mudar”. Somos formatados pelos outros. Estamos completamente dependentes dos meios tecnológicos. O respeito deu lugar ao cinismo. O balanço entre pânico e inércia é difícil de acertar, pois nunca vivemos uma situação assim na era contemporânea precisamos estar dispostos a mudar radicalmente os nossos modos de vida – e talvez até o jeito que pensamos sobre a sociedade em que vivemos. E a razão, provavelmente, não é para proteger a si mesmo, mas para ajudar a sociedade como um todo e as pessoas mais frágeis e expostas. É hora de pensar nos outros de facto.
Fiquem em casa, não açambarquem bens de consumo, cumpram as indicações técnicas emitidas pelos órgãos de saúde, contactem-mas não vão presencialmente, pensem na vossa família e nos outros que também têm família para melhor cuidarmos dos outros, e pensem que também ninguém precisa de heróis mortos.
Quero deixar bem claro que os devaneios de irresponsabilidade aplica-se àqueles que se passeiam por praias, esplanadas, discotecas ou centros comerciais, em bandos de pardais à solta, na base do instinto, sem capacidade de pensar como seres humanos.
E, aqueles que consideram as pessoas que têm mais de 60 anos ou os doentes com outras doenças crónicas (co-morbilidades) como descartáveis, é uma atitude censurável que faz lembrar o nazismo, em absoluto desprezo pela vida, atitude que deve merecer o nosso descontentamento, a nossa revolta, o nosso desprezo, em louvor à vida e ao humanismo.
Vamos ter de reflectir sobre o dia seguinte à derrota do vírus….só não sabemos, nem ninguém sabe quando chega esse dia!!! só os poderes do Estado conseguem impor um estado de excepção. Temos de o aceitar por absoluta inexistência de alternativas. Por isso se pedem medidas para travar abusos – ou seja, mais controlo social. Por isso, deixemo-nos da caça às bruxas, de perguntar de quem é a culpa ou porque é que tudo isto aconteceu, e perguntemos antes o que podemos aprender com isto. Creio que temos todos muito para reflectir e fazer. Começamos hoje porque amanhã pode ser tarde! Por vezes dizemos que “é preciso pagar um preço”….talvez esteja correcto!

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