O SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS-SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO? COMO REDUZIR OS CUSTOS/DESPESAS?
“O sector está à beira do abismo mas isso não surpreende, não pode surpreender ninguém. Há muitos anos que caminhamos para a beira do abismo”
Sempre foi nosso entendimento que o problema dos serviços de transportes públicos de passageiros na Área Metropolitana de Lisboa e do Porto não era o sistema tarifário, o seu principal problema, era o de saber os motivos ou as causas porque mais de 200 milhões de passageiros, deixaram de utilizar os transporte públicos entre 2001 e 2009?([1]) Não temos, também, qualquer tipo de dúvidas em reconhecer que a actual situação, na generalidade das empresas do sector empresarial do estado, que prestam um serviço público de transporte é resultante “de actos de uma clara má gestão, desperdiço de recursos, perda de clientes e elevados custos operacionais e dos encargos financeiros de “utilização que se pode considerar abusiva”de financiamentos infundamentados tecnicamente”.([2])
Em síntese a situação, em 2009 destas empresas públicas que prestam um serviço público de transporte de passageiros ([3])
Ø Entre 2001-2009 mais de 200 milhões de passageiros “deixaram” de utilizar o serviço público de transporte de passageiros; (uma perda, média/diária de cerca de 70 mil passageiros);
Ø Em 2009 as empresas do sector empresarial do estado do serviço público de passageiros, geraram mais de 700 milhões de euros de prejuízo e receberam mais de 204 milhões de euros de indemnizações compensatórias; (anote-se que entre 2004-2010 foram pagas mais de 1,3 mil milhões de indemnizações compensatórias;
Ø O endividamento destas empresas (2009), (Metro de Lisboa e Porto Carris, CP, Refer, STCP, Transtejo/Soflusa) atingia mais de 14 mil milhões de euros, e as necessidades de recapitalização mais de 6,7 mil milhões;
Ø Estas empresas tem mais de 14 mil trabalhadores (2009), e com custos de pessoal de mais de 460 milhões de euros e mais de 454 milhões de euros com o fornecimento de serviços externos;
Ø Os salários médios/ano (2009) situaram-se entre os cerca de 3 886 euros no Metropolitano de Lisboa e os 1 903 euros na Transtejo.
Ø Os custos operacionais nestas 7 empresas atingem cerca de 1,3 mil milhões de euros
Embora com um atraso considerável, desde 2002 que estas empresas estavam “em roda solta”, o Governo decidiu em Novembro de 2011 que“ as empresas do Estado têm de enviarem às Finanças os planos de redução dos custos operacionais que o Governo determinou para 2011, que irão afectar no próximo ano os salários e os contratos de fornecimentos e serviços com o objectivo de obter um corte global de 15 por cento destas despesas em relação a 2009, o que equivale a 1600 milhões de euros “, o que paras estas empresas representa uma redução de cerca de 150 milhões de euros, nos custos operacionais em 2011. Mas será que vão ou estão a cumprir estas metas?
Neste quadro podemos verificar a evolução dos CUSTOS OPERACIONAIS nestas empresas
Empresas | CUSTOS OPERACIONAIS | |||
2005 | 2006 | 2008 | 2009 | |
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METRO LISBOA | 171.063.657,00 € | 166.616.565,00 € | 165.028.954,00 € | 165.894.258,00 € |
CP-COMBOIOS PORT. | 422.551.997,00 € | 416.627.312,00 € | 444.706.149,00 € | 425.896.790,00 € |
CARRIS | 162.953.384,00 € | 168.377.770,00 € | 143.643.056,00 € | 151.212.824,00 € |
STCPorto | 83.010.559,00 € | 84.549.664,00 € | 85.788.452,00 € | 81.039.389,00 € |
METRO Porto | 88.260.539,00 € | 125.923.670,00 € | 141.782.780,00 € | 152.518.501,00 € |
TRANSTEJO | 40.222.230,00 € | 41.317.054,00 € | 38.665.546,00 € | 36.573.435,00 € |
REFER | 251.261.220,00 € | 264.719.794,00 € | 216.206.687,00 € | 224.597.129,00 € |
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TOTAL | 1.219.323.586,00 € | 1.268.131.829,00 € | 1.235.821.624,00 € | 1.237.732.326,00 € |
Empresas | Fornecimentos e Serviços Externos | ||||
2005 | 2006 | 2008 | 2009 | 2008/09 | |
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METRO LISBOA | 39.809.175,00 € | 43.008.099,00 € | 40.847.583 € | 42.164.996 € | 3,23% |
CP-COMBOIOS PORT. | 111.811.210,00 € | 123.145.257,00 € | 141.839.089 € | 138.786.120 € | -2,15% |
CARRIS | 16.676.462,00 € | 21.312.812,00 € | 27.304.572 € | 28.541.549 € | 4,53% |
STCPorto | 34.620.764,00 € | 34.540.329,00 € | 35.709.405 € | 31.810.110 € | -10,92% |
METRO Porto | 58.097.614,00 € | 75.130.461,00 € | 78.805.574 € | 90.014.694 € | 14,22% |
TRANSTEJO | 9.773.710,00 € | 9.909.606,00 € | 10.679.409 € | 14.561.736 € | 36,35% |
REFER | 86.658.084,00 € | 103.854.000,00 € | 102.753.507 € | 108.341.163 € | 5,44% |
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TOTAL | 357.447.019,00 € | 410.900.564,00 € | 437.939.139 € | 454.220.368 € | 3,72% |
mpresas | CUSTOS COM PESSOAL | ||||
2005 | 2006 | 2008 | 2009 | 2008/09 | |
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METRO LISBOA | 89.183.945,00 | 82.696.173,00 | 80.540.052 € | 87.644.276 € | 8,82% |
CP-COMBOIOS PORT. | 149.712.713,00 | 140.384.990,00 | 141.381.175 € | 135.480.693 € | -4,17% |
CARRIS | 102.262.541,00 | 101.473.483,00 | 71.704.414 € | 81.309.645 € | 13,40% |
STCPorto | 41.190.699,00 | 39.662.997,00 | 38.776.731 € | 38.265.528 € | -1,32% |
METRO Porto | 5.964.519,00 | 5.707.853,00 | 5.886.115 € | 6.168.303 € | 4,79% |
TRANSTEJO | 13.446.210,00 | 13.616.930,00 | 13.818.567 € | 14.042.469 € | 1,62% |
REFER | 116.158.899,00 | 110.296.158,00 | 92.051.527 € | 96.861.419 € | 5,23% |
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TOTAL | 517.919.526,00 € | 493.838.584,00 € | 444.158.581 € | 459.772.333 € | 3,52% |
Base: Dados Relatórios anuais destas
Desde que tivemos conhecimento dos objectivos do Governo na determinação da redução dos custos operacionais que não nos seria difícil de prever que as propostas que iriam “sair das diversos conselhos de administração”, que de facto não conhecemos, mas não andaremos “longe” da “sua realidade” que as mesmas se situaram, entre outras variáveis, no domínio da:
- Da redução do número de trabalhadores, com recurso a “pretensas negociações de pré-reformas”;
- Na redução do valor das amortizações e provisões contabilísticas;
- No deferimento das manutenções do material operacional para o ano seguinte;
- Na redução do valor dos “pretensos e criativos” pareceres técnicos de diversas áreas.
A ser verdade, estas “pretensas medidas” apresentadas, reflectem a “imaginação criativa que prolifera nesta área”, o que será o mesmo que dizer que “tudo continuará na mesma”!
O que só será novidade para aqueles que não conhecem os “comportamentos” nestas empresas, e “ a imagem” da incapacidade de gestão, quer técnica quer de postura e de “juízo de oportunidade de “saber e conhecer” a politica-empresarial e do enquadramento “da impunidade politica” da responsabilidade de prestação de um serviço público”, como a base modelado num sistema “criativo de cumplicidades”. Queremos acreditar que não é possível podermos continuar, “impassíveis e olhar estas situações de clara incapacidade e incompetência técnica e profissional de quem está “à frente da gestão”([4]) destas empresas de serviço público, prestado pelas unidades empresariais referidas anteriormente, bem como as inúmeras participadas resultantes da “criatividade imaginativa de lugares de administradores para colocação, de indivíduos, que como se diz, com o encolher de ombros” são os “inerentes aos “custos da democracia”.
Trata-se de uma situação “chocante” que prolifera com elevados custos para o País que continuam a ser suportados por este sector empresarial do estado, mas, onde “O sistema de transportes é um factor determinante da coesão social e territorial e da competitividade do País”.
Como já afirmámos não deixa de ser muito estranho, que na avaliação deste sector, nunca ou muito raramente, desconheço completamente, (o que só se pode justificar pelo “poderoso lobby de interesses que envolve as mesmas”) qualquer referência a:
À estrutura organizacional destas empresas integra um (i) elevado número de administradores directos e indirectos de empresas ditas “participadas” ii elevado numero de assessores dos conselhos de administração, (iii) elevado números de chefias, talvez mais de um milhar chefias, (iv) e uma completa desregulamentação jurídico-laboral o que conduz à inexistência de uma hierarquização orgânico-funcional, de responsabilização e de indisciplina laboral;([5])
· Completa ausência de projectos estratégicos de sustentabilidade deste sector empresarial do estado de serviço público de transporte de passageiros - integrando e respondendo a uma ideia de desenvolvimento de uma politica de transportes integrada e sustentável onde a visão estratégica de planeamento de medidas de curto prazo, tenham como elementos fundamentais o direito á mobilidade e á qualidade de vida das populações;
· Que as denominadas “indemnizações compensatórias” ([6])só passaram a ser concedidas às empresas privadas a partir de 2004 e que assenta em “estudos de tráfego” que não tem qualquer tipo de correspondência com a realidade; (vide caos Fertagus, estudo previsível de passageiros, da autoria de TIS, empresa do Eng José Manuel Viegas e da qual fez parte a Engª Paula Vitorino, que previa um a utilização do comboio na ponte de mais de 100 mil passageiros, quando os “estudos reais” não ultrapassavam os 40 mil passageiros/dia);
Não temos dúvidas que é possível e necessário REDUZIR OS CUSTOS OPERACIONAIS NESTAS EMPRESAS, a questão é de saber se de facto se, sequer implementar um conjunto de medidas que, necessariamente irão provocar uma redução dos custos operacionais ([7])(custos com pessoal e fornecimento de serviços externos), com efeitos imediatos, (medidas de curto prazo) que não dispensa uma intervenção de reorganização estrutural e organizacional profunda nestas empresas, o que levaria a uma acção e tomada de medidas , nomeadamente nas variáveis seguintes: (ou seja como reduzir entre 300-350 milhões de euros)
- Extinção das numerosas empresas “ditas participadas”, com cessação de funções dos diversos administradores; (quais são os custos que o Metropolitano de Lisboa suporta com a Ferconsult, Metrocom , Fernave etc?) – redução de custos, nas sete empresas entre os 10/15 milhões de euros/ano
- Cessação de funções das numerosas e não justificáveis situações de prestação de serviços, por exemplo segundo julgamos saber a REFER tem 24 juristas nos seus quadros e suporta custos elevados com a contratação de pareceres externos; (redução de custos estimados entre os 40/80 milhões de euros/ano, nestas sete empresas)
- Redução ou extinção dos diversos lugares de assessores, directores “ emprateleieras douradas, adjuntos dos conselhos de administração resultantes da colocação, (em algumas situações nem prestam qualquer tipo de serviço na empresa,), de ex-administradores, ex-políticos etc; (redução de custos de prestação de serviços e de pessoal entre 80/100 milhões de euros/ano)
- Redução do número de Directores e outras chefias, algumas sem qualquer tipo de funções, que se estima nestas sete empresas envolverem entre 300/400 individualidades; (estima-se que provocaria uma redução de custos com pessoal entre os 30/35 milhões de euros/ano)
- Exigência de rigoroso cumprimento de uma efectiva prestação de serviço, (exige uma completa reorganização dos horários de trabalho e das respectivas escalas de serviço) com efeitos significativos nos custos do trabalho, não só no “pretenso trabalho extraordinário”, que só por si representa entre 10%-20% dos custos com pessoal, mas também na introdução da prática de “horários sincopados”, (redução de custos com pessoal entre os 50/100 milhões de euros) anotamos que em empresas como o Metro, Transtejo/Soflusa os trabalhadores operacionais exercem as suas funções em apenas, cerca de 50% do horário de trabalho efectivo.
- Melhoria no controlo na aquisição de materiais que efectiva uma redução de 15% ( cerca de 30 milhões de euros);
- Criação de uma única empresa de transportes públicos, uma na área metropolitana de Lisboa e outra na área metropolitana do Porto, implicava uma redução de administradores, de directores e assessores, serviços administrativos e comerciais, estimando-se uma redução de custos com pessoal entre 20%/30% (100 a 150 milhões de euros)
Todos sabemos, ou devíamos saber que um gestor é um indivíduo, com um completo domínio das ferramentas teóricas de gestão, capaz de identificar as vantagens competitivas (pontos fortes e fracos) da sua organização, as ameaças e as oportunidades do meio envolvente, estabelecer programas estratégicos de intervenção em interacção com uma visão estratégica capaz de conciliar a multifuncionalidade, no caso concreto, de uma prestação de serviço público de transportes e implementar as medidas adequadas, liderando as pessoas da organização de modo eficaz e eficiente” de modo a alcançar a competitividade económica dos respectivos sistemas de transportes, como forma de vir a assegurar a sustentabilidade económica, ambiental e social, nas empresas. Um gestor com conhecimentos adequados pode e deve introduzir medidas estratégicas adaptadas ao respectivo sector, quer seja numa unidade empresarial pública ou privada, de modo a que possa atingir os objectivos de redução dos custos operacionais/aumento de produtividade. Mas será que nestas empresas, com excepção de alguns poucos, os administradores em exercício de funções tem, na sua quase totalidade estas capacidades? ([8])
“Por isso não podemos concordar que pelo facto de uma empresa ser do sector empresarial do estado ( empresa pública “) seja "sinónimo" de "mal gerida" e vulgarmente aceite com “normalidade”, que exercício após exercício seja" considerado normal e como algo inevitável a acumulação de resultados negativos ( prejuízos)".
[1] Não deixou de ser espantoso o “dramatismo” em que era noticiado pelo "Jornal de Negócios" que escreveu “que as empresas públicas de transportes estão em risco de ruptura financeira e mesmo de tesouraria. Os mercados "fecharam" o acesso ao financiamento e não há dinheiro para pagar as contas”. Mas e o porquê?
[2] Aqui ressalta claramente as responsabilidades do Tribunal de Contas e da Inspecção Geral de Finanças pela situação de impunidade que “deixaram” que exista nestas empresas.
[3] O sector de transporte público colectivo de passageiros inclui as empresas totalmente detidas pelo Estado: a Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A.; a CP-Caminhos de Ferro Portugueses, E.P.; o Metropolitano de Lisboa,E.P. (ML); a STCP-Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, S.A. e a Transtejo-Transportes do Tejo, S.A., a REFER e a Soflusa bem como participações maioritárias na Metro do Mondego, S.A., onde o Estado detém directamente 53% do respectivo capital e na Metro do Porto, S.A. cuja participação do Estado, em 31 de Dezembro de 2008, conjuntamente com a CP e a STCP era de 60%. ( deve incluir-se também as inúmeras participadas, “resultado da criatividade imaginativa de arranjar lugares de administração”.
[4] “A Carris, CP, Metro do Porto, Metro de Lisboa, Refer, STCP e Transtejo acumulam dívidas de €17,27 mil milhões (2010). Só o passivo da CP e da Refer ascende quase a €10 mil milhões. Os trabalhadores das empresas públicas de transportes continuam a fazer greves contra os cortes salariais” (na imprensa)
[5] Basta verificar qual foi o último “acordo de empresa” publicitado no Boletim de Trabalho e Emprego, (talvez desde 2001 que tal não acontece) para constatarmos uma situação de completa “desregulamentação da negociação colectiva”, dado que as remunerações salariais assentam em múltiplas variáveis, de difícil controlo e com base em “decisões de gestão dos respectivos conselhos de administração”.
[6] Porque se continua a manter o sistema de repartição de receitas dos passes sociais, (apesar de Estudos já realizados) beneficiando claramente as empresas privadas, levando a que a maioria das empresas públicas do sistema estejam a subsidiar os operadores privados que, por essa via, recebem uma compensação indirecta do estado ?
[7] Que representam cerca de mil milhões de euros/ano, nestas sete empresas
[8] Em nossa opinião o problema fundamental deste sector deve ser imputado á má gestão das empresas, e a um sistema “criativo de cumplicidades” que permite " a continuidade de indivíduos sem qualquer capacidade ou conhecimentos "travestidos" de administradores, que tem levado a uma completa ausência de responsabilização, desorganização laboral e desierarquização da estrutura organizativa e a “cumplicidades” demasiado conhecidas, entre “grupos de pressão” (sindicalistas, “carreiristas”, e “outros” que constituem um “bloco de interesses de instalados”que há anos vem proliferando neste sector etc. (ressalvando-se algumas poucas excepções, concretamente a Carris)- e que teve o seu “auge”, em especial a partir de 2002 e que até hoje, este Governo não conseguiu inverter, antes pelo contrário, tem sofrido um claro agravamento) - não podemos esquecer que é a falta de eficácia e eficiência na acção politica e de gestão da “coisa pública” que conduz a uma progressiva falta de credibilidade das politicas e da acção governativa.
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