sábado, fevereiro 16, 2019

Estou só e sonho saudade” ( Fernando Pessoa)



 Estou só e sonho saudade” ( Fernando Pessoa)
Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.”(Cadernos de Lanzarote (1994)- José Saramago).

 “Eu preciso ficar sozinho”…. será uma pergunta ou uma resposta? Todos nós em determinados momentos da nossa vida já “exprimimos” este desejo. Chega uma hora na vida de qualquer pessoa, em que acima de tudo o que  mais  queremos e de que muitos de nós precisamos, mas na maior parte das vezes não sabemos “como o pedir”, é poder ficar sozinhos, nós e os nossos pensamentos! Ter espaço e tempo para pensar, para entender, para sonhar, para tentar reflectir e, acima de tudo para poder processar tudo isso. “Há momentos em que a maior sabedoria é parecer não saber nada.” ( Sun Tzu)
A temática do sentido da perda de alguém, que nos é muito querida, surgiu nos seus múltiplos aspectos, de formas diferentes na nossa vida, e muito recentemente, e não é algo que as pessoas queiram falar. No entanto, é uma experiência tão desafiante para nós entendermos, porque significa abandonar a realidade que tínhamos antes dessa perda, para abrir espaço para uma nova, que pode ser incrivelmente inquietante e até muito assustadora. Muitas vezes pensamos numa perda em termos da morte, mas também há perdas relacionadas com todas as mudanças pelas quais passamos na nossa vida, tanto negativas quanto positivas.
 O “ciclo da vida da humanidade” leva-nos a ter que enfrentar não só a perda da pessoas que amamos; mas também perdemos as ideias que tivemos sobre como seria nosso futuro. Nós perdemos os aspectos da nossa identidade e do nosso modo de viver. Perdemos a familiaridade e conforto do que nos é conhecido. Perdemos pedaços de quem nós éramos uma vez para nos tornarmos quem somos hoje. Perdemos estrutura da família e rotinas e padrões do nosso viver diário. Nós perdemos partes de nós mesmos.
 Enquanto a perda que temos que enfrentar de acordo com a nossa capacidade de viver, é muito  dolorosa e muitas vezes parece que nos é impossível de entender, será também uma espécie de propulsor para termos novas ideias, e uma nova atitude perante o viver a vida.  A perda obriga-nos a mudar o que pensávamos saber, o que cria espaço para integrar novas partes do mundo e de nós mesmos. A perda também nos dá a oportunidade de contar com nossos valores e crenças para viver de novo uma maneira mais intencional e autêntica. A perda lembra-nos o que realmente importa no meio do “caos e da confusão que por vezes invade a nossa mente”. A perda amplifica toda a nossa vida de mil maneiras diferentes e tende a distorcer o tempo que temos que enfrentar e nos faz sentir total incapazes de alterar o passado.
 Eu, acredito que cada um de nós tem a capacidade de crescer através do que passamos, e de nos mostrarmos mais de acordo com a  plena realidade das nossas vidas e de sermos bondosos e amorosos com nós mesmos, não importando o que esteja acontecer externamente e, ao mesmo tempo, acredito com todo o meu coração. Eu acredito porque eu senti, eu vi, e eu continuo a sentir e ver dentro de mim e ao meu redor. Eu já vi isso em todas pessoas de todas que passam pela mesma situação na sua vida, superando todos os tipos de traumas, vivendo com todos os tipos de desafios. A resiliência dos seres humanos   surpreende-me todos os dias.
Mas, não posso deixar de lembrar de que, no meio da perda, não há qualquer problema em não ficar bem e, ter a perspectiva de que em breve, perceberemos  que nos vamos  sentir um pouco melhor do que no dia anterior.   Mas até lá, temos de nos cuidar, de respirar e lembrar-nos sempre de que nós não estamos sozinhos. Talvez os pensamentos não sejam sobre como chegar a um determinado lugar ou um “processo de seguir em frente”, talvez seja sobre o tratar-nos suavemente neste processo e saber que nos sentiremos melhor em alguns momentos, e saborear esses momentos como eles são na realidade e não como nós pensamos como eles deveriam ser. 
Sentir saudades é absolutamente  normal e comum, mas temos de entender, que o passado não volta mais. Temos de ter capacidade de olhar em  frente! Viver a vida , o amanhã talvez não exista, o passado já não volta mais! Hoje talvez tenha chegado a hora de mudar…de “virar a página”!? (… de mudar o rumo e começar de novo)

“Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas porque pararam de perseguir os sonhos.” (Gabriel Garcia Márquez)

Sem comentários: