quarta-feira, janeiro 30, 2008



SERÁ HIPOCRISIA OU A MENTIRA QUE ESCONDE A INCOMPETÊNCIA ?

Sempre entendi que um dos graves erros dos nossos políticos é a tendência que demonstram de querer agradar a todos, o que implica, por exemplo, no caso “mais actual” aparecerem como defensores de um sistema de saúde “tendencialmente gratuito” , na reafirmação que está consagrado na nossa Constituição , mas omitindo, claro está os termos vagos que lhe são próprios das medidas constitucionais, sempre me pareceu que esta postura política era uma completa hipocrisia ou que esconde na maior parte das vezes sintomas de incompetência.
Sobre esta matéria, há uma única certeza , que os políticos “se esquecem de mencionar”, não sabendo se por pura incompetência ou como exercício na arte de mentir : a de que o sistema de saúde, no nosso País, como nos outros não é gratuito: os recursos humanos ( médicos, enfermeiros, técnicos e todo o restante pessoal de apoio) , os medicamentos, as infra-estruturas e os equipamentos que usam não são evidentemente gratuitos e Portugal não está – felizmente – em condições de recorrer à fundação de Bill Gates para os financiar como acontece a alguns países africanos !
Se a política em Portugal fosse exercida com seriedade aquele princípio devia, por isso, ser explicitado aos cidadãos , o de que os serviços de saúde deviam ser financiado apenas pelos impostos pagos por todos os cidadãos, o que daria uma ideia muito mais precisa da situação e, desde logo, faria pensar na necessidade de zelar pela eficiência dos serviços, pela boa gestão dos recursos humanos,da organização dos serviços, das infra-estruturas, etc.
Assistimos no inicio do mandato deste Governo , em debates abertos , sobre as medidas tomadas no reordenamento dos serviços públicos de saúde – das maternidades, das urgências, dos serviços de transporte de doentes, etc. – e que fique bem claro que os mesmos se justificam, melhoram significativamente os cuidados prestados e o acesso da população a esses cuidados de saúde. Aconteceu apenas que os “grupos de interesses corporativos de defesa de interesses particulares” , esconderam-se no inicio no "anonimato", mas agora “ aparecem como pretensamente e perversamente críticos, sem proporem qualquer tipo de alternativas a esse nível, apenas numa “lamentação hipocrita” de que as políticas não tenham sido “explicadas” às populações.Este argumento serve depois para alimentar o clima de obscurantismo e mesmo a tentativa de suscitar o alarme das populações, impedindo efectivamente que as explicações sejam compreendidas por elas, mas também para esconder a incompetência que ao longo dos últimos 30 anos tem grassado sobre o serviço público.
Estamos certos e essa a nossa convicção que tal como sucedeu já com as maternidades, a prática acabará por mostrar o bom fundamento das políticas, desde que o Governo não vacile na acção e programação das medidas estratégicas ao serviço das populações mas, deverá promover uma informação adequada de modo a conseguir a confiança das pessoas e, simultaneamente, aprofundar o debate onde ele precisa de ser aprofundado, o que se deve procurar é evitar tomadas de posição, desejando agradar a todos, mas acabando apenas por conduzir ao descrédito dos políticos e das respectivas políticas “servindo” deste modo aqueles que procuram “esconder a falta de ideias” para servir melhor as populações. É apenas nessa área que há opções em jogo e opções que não são fáceis.
Por um lado, as necessidades e as tecnologias evoluíram muitíssimo, exigindo novas soluções flexíveis e eficientes, frequentemente em contradição com as regras corporativas instituídas, e por outro, porque durante demasiado tempo se ignoraram esses condicionalismos, optando-se antes por soluções fáceis de gestão dos recursos humanos e de promessas de serviços ao sabor das conveniência políticas e de grupos instalados de interesses particulares, que criaram ideias feitas sobre serviços públicos e privados que precisam de ser debatidas com clareza para garantir que, de facto, todas as pessoas, sejam quais forem os seus meios, têm acesso a cuidados de saúde, o que supõe a maior eficiência na sua prestação, quer ela provenha de entidades públicas ou privadas, com recurso ou não a parcerias publico- privadas mas sem esquecer que serão sempre os impostos de todos nós a pagá-los !