sexta-feira, setembro 18, 2020

“NENHUM HOMEM É UMA ILHA”. (John Donne)

 NENHUM HOMEM É UMA ILHA”.  (John Donne)

 “Nenhum homem é uma ilha”, ensinou o poeta e religioso inglês John Donne, já lá vão alguns séculos, mas que  ensina agora a realidade travestida de pandemia de covid-19, de quarentena obrigatória, de isolamento e que, talvez nos ajude a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. Ou talvez de outro modo todo o ser humano seja  uma pequena ilha de conhecimento ladeada por um imenso oceano de ignorância .Mas, na realidade nesta vida que vivemos nenhuma pessoa é uma ilha, mas algumas pensam que  são pequenos arquipélagos e, talvez por isso vivemos de tal modo obcecados com o que se passa para lá da janela que já nem sequer vemos a janela. Mas ela está lá! Tal como a nossa casa, as mesas, …os amigos. As pequenas coisas. Por vezes damos connosco a pensar nas pequenas coisas mais importantes da vida. Como dizia José Saramago:” Somos todos uma mera ilha desconhecida. Partilhamos o mesmo oceano, mas não partilhamos os mesmos rumos. Somo-nos desconhecidos. Não nos conhecemos a nós próprios, muito menos aos outros.

A este propósito, sendo agora o “tempo do regresso às aulas”, li que uma  “das futuras medidas do governo para o próximo ano lectivo; a partir de um certo ano de escolaridade, (penso que ainda a definir), os alunos deverão ter a responsabilidade de desinfectar ao fim do dia a mesa de trabalho de forma a que desempenhem  um papel activo no impedimento da propagação do vírus, não substituindo o papel do auxiliar de educação, mas sim, de ajudar a minorar uma questão que a todos diz respeito.”

Sobre isto acabei de ler o seguinte comentário a esta notícia;

"Filho meu não vai limpar nada porque não tem essa obrigação, as auxiliares que limpem porque ele não é empregado de ninguém".

Apetece-me contar-vos uma história que será de memória comum a muitos de nós.

No tempo dos meus pais, dos vossos pais, no meu tempo, as crianças que podiam ir à escola (poucas, porque na aldeia a abundância era inexistente), muitas delas iam descalças. Depois de terem acordado com as galinhas e de ajudarem os pais na lida da casa, de alimentarem o porco e os patos, as galinhas  que viviam no pequeno quintal, depois de ajudarem a mãe a dar o pequeno almoço aos irmãos mais novos, depois e só depois, descalços, iam por terra batida para a escola e em bandos como pardais, sem vigilância parental. Os pais tinham que ir bem cedo para os campos guardar gado, cavar de sol a sol. Já tinham a responsabilidade de cuidar, mas também a liberdade de usarem as asas.

A mochila dos Pokémons, Frozens, Patrulha Pata e o caraças era um cinto das calças que apertava os manuais escolares que imaculados e religiosamente poupados que nem peças de colecção, serviriam mais tarde para os irmãos mais novos.  As crianças já tinham responsabilidades de dar valor ao que tinham.

Na sala de aula tinham a responsabilidade de se portarem bem, de cuidarem do escasso material escolar disponível, de respeitarem a professora. Caso não acontecesse, estava prometida uma galheta pelas trombas o as mãos ardiam com aquela régua de madeira com nozes.

Tinham a responsabilidade de respeitar.

Muitas dessas crianças só tinham uma muda de roupa e sabiam que teriam que a poupar, não havia dinheiro para mais, a família era pobre e essa consciência já estava bem definida.

Hoje em dia alguns pais não querem que os filhos tenham responsabilidades (julgam  os mesmos demasiado "preciosos" para que o simples acto de limpar uma mesa seja somente a obrigação de alguns).

São estes burgueses de cocó armados ao pingarelho que acham que os filhos são pequenos príncipes (mesmo que tenham 18 anos). Os outros,  são os serviçais.

Um dia os "príncipes" serão os futuros cagões que perante a velhice dos pais, simplesmente desaparecem, porque não têm estofo para lidar com responsabilidades.

Se acho que antigamente tudo era bom? Não acho.

Se acho que antigamente é que era bom? Não acho.

Se acho que os pais de antigamente pecavam pelo exagero? Também acho.

Se acho que antigamente se respeitava mais o próximo? Ah... isso acho.

Não sou ninguém para opinar sobre como devem criar os vossos filhos, mas isto é só bom senso, gente!

Nada mais que isso. Bom senso.

Vou repetir; bom senso.

Porra pá, só vão pedir aos vossos filhos que passem um pano por cima de uma superfície plana que poderá estar contaminada e que, no pior dos cenários, poderá levar ao falecimento de alguém.  É assim tão descabido?

E já agora de ganhar cinco dedos de testa, ide. "

Desconheço autoria deste texto in facebook “Tocaprender Centro de Estudo e Ocupação de Tempos Livres “( O texto não é meu... mas concordo plenamente... )