quinta-feira, setembro 10, 2020

 "No meio das dificuldades escondem-se as oportunidades."( Albert Einstein)

Estes tempos chamados “da pandemia de Covid-19” assusta a todos, mesmos os que dizem que não se assustam. É que todos podemos  ser infectados. Ninguém está isento. Não importa qual seja sua posição na vida, o seu status, o seu poder ou a sua popularidade, o vírus ainda pode sempre “agarrá-lo”. Esta possibilidade evoca um sentimento primordial de fragilidade e vulnerabilidade que a todos atinge. Esta frase atribuída a Albert Einstein que, titula esta “crónica”, pareceu-nos ser  o lema ideal para repetir-se quando o desânimo, após vários dias de urgência de confinamento nos “visitou”, no reconhecimento que tudo isto nos causa alguma ansiedade e até frustração. Como disse Oliver Wendell Holmes : “O mais importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direcção para a qual nos movemos.”

Talvez nesta altura seja útil esclarecer, que a forma como escrevo é aquilo que sou, ou melhor dizendo naquilo eu me tornei, sinto uma enorme vontade de encontrar palavras que possam exprimir numa leitura precisa do que sinto e do que penso, no fundo dirão que “quero ser visto na minha coerência” ou como dizia Jean Paul Sartre:O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.”

No entanto, para mim coerência é uma coisa muito mais séria e profunda – acima de tudo é viver de acordo com os valores em que acreditamos –com verdade, honestidade, integridade e lealdade. No fundo ser para os outros como somos para nós mesmos. E é claro que podemos por vezes meter “a pata na poça” e não chegar, nem de perto, nem de longe, às metas, aos objectivos que nos propomos, mas acreditamos que é essa honestidade, integridade e lealdade para  connosco próprios e com o conteúdo dos “sermões” que lhes damos, que vai ajudar a que se definam como pessoas. E, para terminar, regresso aos medos, que li em qualquer lado, confessados no “ Questionário de Proust”, onde o  dramaturgo Ricardo Alves confessa: “O medo de já não ter desejos, de não sentir inquietação. O medo de cumprir as ânsias e os desejos desaparecerem.” Que a coerência, a inquietação e os desejos não desapareçam nunca! Ou no dizer de Max Weber:“O homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível.”

E, nada melhor como “termino” destas “palavras de hoje”, como este poema  de José Jorge Letria.” Esta ausência não foi por nós pedida,/este silêncio não é da nossa lavra,/já nem Pessoa conversa com Pessoa,/com o feitiço sempre imenso da palavra./Este tempo só é o nosso tempo./porque é nossa a dor que nos sufoca;/e faz de cada dia a ferida entreaberta;/do assombro que esquivando-se nos toca,/Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós,/é a casa alquebrada pelo medo,/é a febre a arder na nossa voz,/por saber que o mal a magoa em segredo,/Este silêncio é um sussurro tão antigo;/que mata como a peste já matava;/vem de longe sem nada ter de amigo/,com a mesma angústia que nos castigava,/Esta ausência é uma pátria revoltada,/que se fecha em casa sempre à espera,/que a febre não a vença nem lhe roube,/a luz mansa que lhe traz a Primavera,/Esta casa somos nós de sentinela,/à espera que a rua de novo nos console,/e que festeje debruçada à janela,/a alegria que só nasce com o sol,/Esta ausência mais tarde há-de ter fim,/por nada lhe faltar nem inocência;/que se escute o desejo de saúde,/anunciando que vai pôr fim à inclemência,/Que se abram as portas e as janelas,/que o medo, derrotado, parta sem destino,/por ser esse o sonho colorido/que ilumina o riso de um menino."(José Jorge Letria - 20 de Março de 2020)