quinta-feira, julho 09, 2020

"Enquanto a vida durar, vamos continuar com a história". (Carmen Martín Gaite)


"Enquanto a vida durar, vamos continuar com a história".
  (Carmen Martín Gaite)

Vivemos num contexto de total incerteza, com um vírus novo e de comportamento imprevisível, por tempo indeterminado. Nada é mais terrível para os cidadãos e m especial para os políticos, os que dirigem e os outros. Falar é quase sempre falar cedo demais. Declarar vitória é dar tempo à derrota na curva seguinte. Afirmar é fazer figas. Orientar é tentar manter as coisas a andar. Como muitos, achei que a pandemia me ia dar tempo de sobra para ler. Como muitos, acabei atulhado em textos e livros sobre o vírus e todas suas declinações, sociais, políticas, económicas, tudo matérias que já me estafam e não me dão qualquer tipo de “gozo”. “O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.”(Mario Quintana)
Por vezes podemos pensar que a vida é mais simples a preto e branco, no entanto ela é bem mais complexa do que a  resposta à pergunta: a culpa de quem é? Talvez por isso, nestes momentos de muito desconforto, rememoramos o que disse Marie Curie (primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel):  “Nada na vida deve ser temido, deve ser entendido apenas. Agora é a hora de entender mais, de poder temer menos ”.
Temos que ter a noção de que tristeza e depressão não são a mesma coisa, na medida em que todos nos sentimos tristes num momento ou noutro e essa tristeza tem geralmente uma duração limitada e com reacções emocionais adequadas à situação. Se perdemos alguém que amamos, se há uma separação ou afastamento de alguém ou de alguma coisa de que gostamos, é esperado que fiquemos tristes durante algum tempo, mas, aos poucos, o nosso humor vai melhorando e ganhamos novamente vontade de fazer coisas que nos dão prazer. Na depressão é diferente. Os sentimentos e sintomas negativos não desaparecem ao fim de algum tempo e até se intensificam. Como disse Friedrich Nietzsche:” O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.”  A ideia do filósofo é mostrar como somos capazes de aprender e ficar mais fortes emocionalmente a partir das nossas experiências de vida, incluindo (e principalmente) as mais difíceis e dolorosas .
 Ao longo dos meus tempos de vida sempre reconheci que o futebol foi para mim “uma escola de aprendizagem para a vida”, tal como Albert Camus escreveu a sua frase mais famosa sobre o desporto: “Tudo quanto sei com maior certeza sobre a moral e as obrigações dos homens devo-o ao futebol”. Não pense primeiro em si. Pense em todos. É a única forma de todos pensarem em si. Nem pânico, nem descontracção. Apenas consciência da gravidade da situação. Cito aqui uma frase que li à dias: “Este é um momento assustador. Mas já vivemos tempos assustadores antes.
E tal como o recurso á leitura nos ajuda a relativizar tudo, também esta certeza nos dá uma estranha tranquilidade em tempos tão incertos. Talvez porque, como Alberto Caeiro (na pele de Fernando Pessoa) disse, melhor do que ninguém: "Quando vier a primavera, se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira e as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma. Se soubesse que amanhã morria e a primavera era depois de amanhã, morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?"

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