segunda-feira, outubro 22, 2007

Serviço Público de Transporte de passageiros . Incompetência ou negligência ?

Já nada nos pode espantar ! Nem mesmo afirmações de “ pura propaganda” como estas insertas na imprensa escrita, nem sequer nos pode espantar “a ligeireza” , para não qualificar esta “grosseiria” de outro modo , com que estes artigos são escritos, e por isso veio-nos ao pensamento um artigo de opinião do dia anterior “Nós achamos mesmo que os políticos não são gente. São cínicos, fingidos, ambiciosos, aldrabões, sem sentimentos como nós. Dizem-se excelentes e prometem muito, mas é tudo mentira”. ( Dr. João César das Neves in DN de 17.09.2007) .
As declarações dum membro do Governo, aqui , sobre esta matéria de transportes públicos, na afirmação“2,5 milhões foi o número de novos passageiros conquistados pelos transportes públicos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto em 2006 “ exemplifica claramente o quanto o atrás descrito é verdadeiro, dado que na realidade este pressuposto deste “membro do Governo” , nem em “ sonhos existe” !
Mas será um erro grosseiro a afirmação de que houve “aumento do número de novos passageiros de 2,5 milhões” ou "uma das tais "mentiras politicas"" - é que da consulta , ao site da Direcção Geral do Tesouro e Finanças ( http://www.dgtf.pt/see.htm) onde se encontra toda a informação sobre as empresas, podemos verificar que em 2006 , a seis empresas do sector empresarial do estado, operadoras do serviço público de transportes de passageiros , não aumentaram qualquer passageiro antes pelo contrário perderam mais de 7,5 milhões de passageiros ! Como foi possível a afirmação de que “aumentaram”? Qual a responsabilidade deste membro do Governo? Como se pode acreditar no rigor, na transparência e na eficiência da acção governativa ?

Empresas (Passageiros)........2005 ..............2006 ..............Evol ( 2005/06) %
Transtejo ............... ..........29.690.968 ............ .28.563.000 .................-0,8%
CP- Caminhos de Ferro .... 130.609.000............. 131.266.000 ................
+0,5%
Carris ..............................240.800.000 ......... 234.900.000 .................
-2,5%
STCP ( Porto) .....................20.910.000 ...........18.977.500 ..................
-9,2%
Metro ( Porto) .....................1.848.100 ............3.863.700..................
109,1%
TOTAL ..........................583.988.068........... 576.390.698 .................-1,3%
Fonte: http://www.dgtf.pt/see.htm

O que o membro do Governo, não disse , mas devia ter dito, era que para além de se ter perdido mais de 25 mil passageiros ( por dia), da análise dos relatórios e contas ( 2006) pode concluir-se, ainda, que o endividamento destas empresas atingiu, em 2006, mais de 12,7 mil milhões de euros, ( equivalente à construção do aeroporto internacional e do TGV)um aumento de cerca de 9,6% em relação ao ano anterior, ou seja mais 1,1 mil milhões de euros, em 2006 !. Será que esta situaçao se pode tipificar apenas e só como uma situação de incompetência da acção governativa ?

EMPRESAS.......................... Endividamento
...................................2005..................... 2006 ................Evol %
Transtejo ................... 59.210.365,00 €......... ....... 69.772.690,00 € ............+17,8%
Metro ( Lisboa) ...........2.873.989.997,00 € ..........3.040.397.670,00 € ..........+5,8%
CP- Caminhos de Ferro ........2.578.061.347,00 €...... 2.675.489.435,00 € ........+3,8%
Carris ................499.301.929,00 €.......... .....543.632.279,00 € ..........+8,9%
STCP ( Porto) ..............211.094.982,00 € ...............230.237.719,00 € ..........+9,1%
Metro ( Porto) ..........1.394.344.065,00 € ........1.684.459.307,00 €...... +20,8%
SubTOTAL ..............7.616.002.685,00 €......... ...8.243.989.100,00 € ......+8,2%
REFER ............3.976.601.919,00 € ..........4.466.748.868,00 € ........+12,3%
TOTAL .............. 11.592.604.604,00 €.......... 12.710.737.968,00 €....... +9,6%
Fonte: http://www.dgtf.pt/see.htm
Isto é, estas empresas endividaram-se em média mais de 3,1 milhões de euros , por dia, em 2006 ! ( Já agora o aumento do IVA de 19% para 21% ,aumentos que atingiram gravemente toda a população, terá gerado um aumento do valor do IVA de cerca de 190 milhões de euros, isto o equivalente a mais ou menos ao endividamento de dois meses destas empresas, será que , não se sabe ou não se tem capacidade para tomar medidas para impedir a continuidade desta situaçao de gestão danosa de dinheiros públicos ?)
Os prejuízos gerados por estas empresas atingiram mais de 759 milhões de euros , um agravamento de mais cerca de 11,9% que no ano anterior, ou seja mais de 80 milhões de euros em relação ao ano anterior e cerca de 2,1 milhões de euros, por dia!!!!

EMPRESAS RESULTADOS NEGATIVOS 2005 2006 .....Evol %
Transtejo ....-16.258.696,00 €..... -17.281.839,00 € ....+6,3%
Metro ( Lisboa) ....-162.034.950,00 €..... -147.569.174,00 € ....-8,9%
CP- Caminhos de Ferro ....-196.826.874,00 € ...-192.897.562,00 €... -2,0%
Carris ...... -54.481.492,00 € .... -52.178.883,00 €.... -4,2%
STCP ( Porto) .... -17.146.577,00 € .... -25.600.521,00 € ... +49,3%
Metro ( Porto) ... -71.335.191,00 € .... -122.155.435,00 € ... +71,2%
subTOTAL ... -518.083.780,00 €.... -557.683.414,00 €... +7,6%
REFER..... -160.369.481,00 € ... -201.701.575,00 € .... +25,8%
TOTAL ... -678.453.261,00 €... -759.384.989,00 € ....+11,9%
Fonte: http://www.dgtf.pt/see.htm
Sempre entendemos que pelo facto de uma empresa ser do sector público não podia ser "sinónimo" de "mal gerida" e aceite que exercício após exercício fosse "aceite a inevitabilidade da acumulação de prejuízos".
Por isso, sempre defendemos que o problema dos transportes públicos não é o preço dos combustíveis. O problema é outro ou outros: má gestão das empresas, e o sistema que permite " a continuidade de indivíduos sem qualquer capacidade ou conhecimentos "travestidos" de administradores, a completa ausência de responsabilização etc. Como se pode continuar a exigir rigor e transparência nas contas públicas se em algumas das empresas do sector empresarial do Estado, a superficialidade, falta de rigor e muitas vezes incorrecções e erros graves com que assuntos fundamentais como reestruturações sectoriais, opções de expansão de negócios específicos, fusões ou modelos de planeamento e desenvolvimento estratégico económico global ou sectorial são tratados, torna-se assim a prática corrente de deixar "andar" e um completa desresponsabilização pelos resultados negativos alcançados. Será que não estamos perante uma situação de completa negligência na acção Governativa? SERÁ QUE NINGUÉM QUER ALTERAR ESTE ESTADO DE COISAS ?

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