segunda-feira, agosto 14, 2023

A fábula da formiga desmotivada

A fábula da formiga desmotivada Tudo o que cai na rede é peixe? Mas, nem sempre é assim. Às vezes, e só às vezes caem nas redes (sociais) alguns textos que são verdadeiras aulas de senso comum e sabedoria popular. Um deles anda a aparecer com alguma frequência na minha área de interesses, que versa sobre uma formiga que passou de enérgica trabalhadora a funcionária desmotivada. Trata-se de uma fábula sobre a vida numa empresa (neste caso, qualquer empresa. As fábulas servem justamente para isto, exemplificar, através de histórias fantasiosas, as verdades mais profundas). A versão narrativa que vou contar é a minha, mas o pano de fundo não varia das outras que andam por aí. Pois bem, a formiga era eficiente e eficaz. Aqui tenho que fazer uma distinção entre “a eficiência” que consiste em fazer certo as coisas. Na generalidade está ligada ao nível operacional, como realizar as operações com menos recursos – menos tempo, menor orçamento, menos pessoas, menos matéria-prima, etc e a “a eficácia” que consiste em fazer as coisas certas, isto é fazer o que é certo para atingir o objetivo inicialmente planeado. Ser eficaz é basicamente conseguir atingir o respectivo objetivo. A eficácia está relacionada diretamente com os resultados. Na realidade a formiga tinha tanta força e tanta motivação que, (quase) literalmente, carregava a “empresa ás costas.” Muito devido ao seu desempenho o negócio expandiu, cresceu. O céu parecia o limite. Mas o dono da empresa, o gafanhoto, sentia-a incomodado tendo a formiga a trabalhar sem supervisão. Também não gostava de sentir-se “formigodependente”. Aprendera em Havard que o trabalho deveria ser feito sempre em equipa. Daí contratou uma barata, formada em Oxford, para criar um plano de gestão de longo prazo, contratar novas equipas e colocar a formiga “nos eixos.” Assim foi feito. Chamaram uma mosca para actuar como controller. A pulga tratava da qualidade emocional do escritório. A lesma, de tentar implementar o programa de eficiência total. A abelha ficou encarregada da gestão de sinergias. A cigarra com os RH (Recursos Humanos). A borboleta dedicou-se a um ambicioso projeto de redecoração dos espaços, baseado no feng shui. O gafanhoto vibrou ao ver aqueles profissionais com tantos skills e diplomas a labutar sob as suas ordens. Com eles vieram assistentes, subdiretores, estagiários. A empresa ganhou até um importante prémio atribuído por uma revista de gestão devido a exuberante diversidade dos seus colaboradores. Neste “novo” enquadramento só a formiga não estava feliz. Passava a vida a fazer relatórios para a mosca, a participar em reuniões com a lesma, a desenhar planos para a abelha e assim por diante, sem tempo para fazer o que mais sabia que era trabalhar. O problema é que, por algum motivo, a empresa, antes muito lucrativa, estava agora a perder dinheiro. O gafanhoto contratou então uma coruja, a mais famosa consultora do bosque, para descobrir o motivo daquela sangria. Depois de alguns meses de estudo, a coruja escreveu um imenso relatório. Alertava que folha de pagamentos estava muito pesada. Havia funcionários a mais na empresa. Era hora de dispensar alguém. O gafanhoto não teve dúvidas: mandou embora a formiga que há tempos demonstrava estar aborrecida. Em menos de um ano, afogada em burocracias e papéis, sem produzir quase nada, a empresa estava falida, claro. Mas o gafanhoto nunca chegou a perceber o porquê? Ou como diz um proverbio chinês:” O burro nunca aprende, o inteligente aprende com sua própria experiência e o sábio aprende com a experiência dos outros. “ NOTA FINAL: Se por acaso me perguntarem se é melhor ser eficiente ou eficaz, a resposta será: as duas virtudes são ótimas para qualquer profissional. Na medida do possível, devemos ser eficientes e eficazes. O exagero não é bom de nenhum dos lados. O equilíbrio é fundamental para que possamos olhar para todos os ângulos de uma situação, sendo capaz de avaliá-la com clareza e agir de acordo com esta análise, tanto de forma eficiente, quanto eficaz.

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